Eu assisti Kursk – A Última missão, que estreia amanhã (9) nos cinemas, no mesmo dia em que assisti O Caso Richard Jewell, que estreou na semana passada. Os dois são baseados em histórias reais recentes, e também são daqueles filmes que deixam um amargor na boca ao perceber como orgãos incompetentes de governos podem destruir a vida de pessoas. Para quem conhece a história do submarino russo Kursk, a tragédia é ainda maior, e a revolta que fica também.
O filme é inspirado na história verídica de K-141 Kursk, o submarino nuclear russo que afundou no Mar de Barents em agosto de 2000. À medida que 23 marinheiros lutam pela sobrevivência dentro da embarcação, as suas famílias desesperadas combatem obstáculos burocráticos e probabilidades assustadoras para conseguirem encontrar respostas e salvar os entes queridos. Mesmo com o oferecimento de ajuda de outros países, os russos relutam em assumir que não são a potência poderosa de outrora, sem a capacidade de salvar seus próprios marinheiros.
O incômodo da história do Kursk
Baseado no livro de Robert Moore, A Time to Die: The Untold Story of the Kursk Tragedy, o filme acompanha três frentes paralelas. Os marinheiros presos no submarino à espera de resgate, as suas famílias que cobram notícias dos políticos/militares, e o esforço de um Comodoro inglês (Colin Firth) para ajudar, mesmo que o governo russo não queira. As cenas dentro do submarino são terríveis – no bom sentido. Para quem é claustrofóbica como eu, é desesperador ver aqueles homens lutando para conseguir um pouco de ar, passando por espaços mínimos, e ainda tendo que suportar o frio congelante daquelas águas. Já as cenas das famílias em busca de notícias, impotentes para salvar seus entes queridos sãotristes e emocionantes. Mas o pior são aquelas onde a burocracia incompetente dos comandantes impera, sem se importar com as perdas de vidas humanas. É de embrulhar o estômago.
O elenco
Como o líder dos marinheiros, Mikhail, Matthias Schoenaerts tem aquele carisma de herói trágico, que faz com que você se apaixone por ele em todos os filmes (sim, é o meu caso). Colin Firth traz a fleuma britânica que também funciona smpre como o Comodoro. O elenco ainda têm Lea Seydoux como a esposa de Mikhail, e o veteraníssimo Max Von Sydow como o chefe do governo russo. O ator reencontra sua parceira de As Melhores Intenções, Pernilla August, numa cena particularmente poderosa. E ainda, para deixar tudo ainda mais melancólico, foi também o último filme de Michael Nyqvist (Nesterov). Ele morreu um mês antes do fim das filmagens em 2017. Segundo o the Guardian, ele já tinha feito todas as suas cenas.
E, no final…
Com isso tudo, é claro que Kursk – A Última Missão é um filme incômodo. Mas é daqueles que a gente precisa ver . Não importa se foram tomadas liberdades artísticas de roteiro. O cerne do problema está lá – e tristemente ainda continua presente em muitos lugares.