Ontem me desconectei cedo. Queria terminar de ler um livro da série Outlander (consegui). Hoje acordei tarde e já me deparei com a triste notícia da morte de John Hurt. Talvez a maioria não o conheça de nome, mas com certeza todos vão reconhecer o rosto cheio de rugas, a voz grave, e o imenso talento dele. E, afinal, ele foi o Sr. Ollivander nos filmes de Harry Potter. John morreu ontem, um pouco depois de completar 77 anos no último dia 22. Deixou vários filmes prontos. Vi um deles na semana passada, Jackie, com Natalie Portman, que vai estrear no próximo dia 2, e concorre ao Oscar. Ele faz um padre, confessor de Jackie. Já dava para ver que não estava bem de saúde. Ele fez um tratamento contra um câncer no pâncreas em 2015, que acabou sendo a causa de sua morte. Foi neste mesmo ano, que foi nomeado Cavaleiro pelo Rainha da Inglaterra.
John foi um dos grandes daquela geração de atores de teatro da Inglaterra, que incluía, Richard Burton, Peter O’Toole, Richard Harris, Anthony Hopkins. Foi lá que começou sua carreira nos anos 60. No cinema, estreou em 1962 com Um Grito de Revolta. Não era um homem que se podia denominar bonito, mas tinha um talento e uma presença em frente às câmeras simplesmente genial. Acabou se tornando mais conhecido do público quando apareceu no filme vencedor do Oscar, O Homem que não Vendeu sua Alma, de 1966. Ele nunca chegou a ganhar o prêmio da Academia, tendo concorrido apenas duas vezes, com O Expresso da Meia-Noite (coadjuvante) em 1979, e O Homem Elefante (ator), em 1981, este último provavelmente sua mais grandiosa atuação.
Em compensação, concorreu sete vezes ao BAFTA, e ganhou três, também por Expresso da Meia-Noite e O Homem Elefante e ainda por The Naked Civil Servant, em 1976. Em 2012, recebeu um especial por sua contribuição ao cinema britânico. Ao longo de sua carreira ganhou um total de 21 prêmios.
John Hurt costumava brincar que tinha feito muita porcaria no cinema e na TV. É verdade! Mas de qualquer maneira, por pior que fosse o filme, sua atuação sempre era algo de bom com o que você podia contar. Em seus mais de 200 créditos como ator (fora as peças de teatro), John sempre brilhou. Separei aqui os momentos mais importantes e mais marcantes (para mim) em sua carreira:
- O Homem Elefante
John costumava dizer que tirar e colocar a pesada maquiagem usada por seu personagem nesse filme, estava conseguindo fazer com que ele odiasse atuar. Humor inglês à parte, este foi o filme que o elevou a um outro patamar de sua carreira, mesmo tendo ficado com seu rosto coberto por todo o filme. Era a história verdadeira de John Merrick, um homem disforme, que trabalha em shows de horror (freak shows) durante a época vitoriana até ser encontrado por um bom médico (Anthony Hopkins). Rodado em preto e branco, uma audácia para a época, o filme foi indicado para oito Oscars, inclusive ator, mas acabou não levando um sequer.
- Doctor Who
John é o ator mais velho a interpretar o Doutor, que ele fez em três episódios especiais em 2013. Em uma entrevista, ele disse: “Eu não tinha ideia que Doctor Who havia se tornado tão grande; eu simplesmente pensei, ‘Brilhante, eu serei um Doutor!’ E aí de repente eu estava, como eles chamam isso? Você começa a ser ‘trending’. Isso é tudo tão novo para mim!
- Hellboy
Eu adoro essa aventura de fantasia dirigida por Guillermo Del Toro em 2004, e John fazia um professor que salva o Hellboy ainda bebê, e o cria como filho. É um de seus personagens mais adoráveis, que ele acabou reprisando em Hellboy 2: o Exército Dourado. Também providenciou a voz para o professor Broom no desenho Hellboy Animated: O Espírito do Fantasma
- 1984
O personagem principal do famoso livro de George Orwell foi um grande desafio para John. Ainda mais porque segundo o diretor Michael Radford, ele havia sido a primeira e única escolha para o papel de Winston, um dos burocratas que reescrevem a história, até que comete o crime de se apaixonar por uma mulher.
- Alien: o Oitavo Passageiro
Acho que esse filme é a primeira lembrança que tenho de John Hurt, quando o assisti ainda menina. A explosão do estômago é uma das cenas mais clássicas do cinema de terror. E tem uma história divertida. John era a escolha original do diretor para o papel de Kane, mas acabou envolvido em um outro projeto. Foi contratado então o ator Jon Finch. Só que John acabou não podendo fazer o outro filme que seria rodado na África do Sul, porque foi confundido com o ator John Heard, que havia falado mal do governo racista da época, e havia sido colocado numa lista negra, sem poder entrar no país. Ao mesmo tempo Jon Finch teve que ser hospitalizado por uma crise de diabete. Resultado: John Hurt voltou para o papel que era para ser seu desde o início.
Ganhei da Fox recentemente uma caixa de Blu-Rays com todos os filmes de Aliens. Acho que este é um bom dia para rever Alien: o Oitavo Passageiro e brindar a esse grande talento de John Hurt. Simplesmente inesquecível!
Para todos aqueles que queriam ver o fim de 2016 por causa do número de celebridades que se foram em 2016, esse janeiro de 2017 não tem sido muito esperançoso. Somente nessa semana se foram Mary Tyler Moore, o ator da série Mannix, Mike Connors, e a atriz da série Perry Mason, Barbara Hale. Triste!