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Ainda Estou Aqui é um grande momento do cinema brasileiro

Ainda estou Aqui vem sendo muito badalado. Ganhou o prêmio de roteiro no Festival de Veneza, foi o escolhido pelo Brasil para ser seu representante do Oscar. E ainda vem ganhando vários prêmios em outros festivais menos conhecidos. E, claro, muita gente fala da possibilidade de Fernanda Torres vir a concorrer ao Oscar de melhor atriz. Sinceramente, será um longo caminho até lá – e há grandes possibilidades disso não acontecer . Mas creio que a chance do filme concorrer ao prêmio de filme estrangeiro é bem grande. O lobby do estúdio está sendo bem feito, e além de tudo, o filme é muito bom. Ainda estou aqui só vai estrear  nos cinemas em circuito normal em novembro, mas já teve duas sessões na Mostra de Cinema de São Paulo – e terá mais uma hoje  (19).

O filme se baseia numa conhecida história real foi descrita no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, que  reais. A história se passa no começo dos anos 1970, durante o período mais duro da ditadura militar brasileira. Apesar de abordar o regime, o ponto de vista do filme é da família Paiva. Após o pai, Rubens (Selton Mello) desaparecer, a vida da mãe Eunice (Fernanda Torres) e seus os cincos filhos muda completamente. E Eunice luta contra tudo e todos para descobrir o que aconteceu com seu marido.

O que achei?

O filme se divide em três partes. Na primeira, vemos a família feliz, mas com a sombra da situação política ameaçadora pairando sobre todos. É uma situação de tensão ininterrupta que contrasta com a felicidade da família, até porque você sabe o que vai acontecer. A segunda parte começa com a situação de prisão. Não vemos o que acontece com Rubens. Somente acompanhamos a jornada de Eunice quando ela também é “trazida para interrogatório” com um pano na cabeça que a impede de ver para onde está sendo levada com uma das filhas. E também quando vai para uma cela sem direito a saber o que aconteceu nem com a filha nem com o marido. A terceira parte mostra não só a luta de Eunice para descobrir o que houve com o marido, mas também para cuidar de sua família sozinha.

O que mais admirei no filme é o tom da história, uma homenagem à própria Eunice, que levava tudo com grande classe, e sem “descabelamentos”. Eunice é uma personagem sensacional, e Fernanda Torres está sensacional. Seu tom de voz é sempre o mesmo, mas é totalmente perceptível o turbilhão de emoções passando por seus olhos. Um belíssimo trabalho. E é interessante ver como ela está cada vez mais parecida com a mãe, Fernanda Montenegro. Esta, aliás, faz uma participação muito especial, ao final, como a Eunice mais velha. Fernanda Torres brincou dizendo que nos festivais internacionais todos achavam que era ela mesma, envelhecida por maquiagem. Rsrs!

Walter Salles

Walter Salles é um grande diretor, que estava há 12 anos sem dirigir um longa. Há momentos brilhantes em seu trabalho, quando alterna as linguagens da narrativa, como Super 8, documentário etc. Tudo ao som de clássicos da época de Caetano, Tom Zé, entre outros. O roteiro também tem umas tiradas ótimas de época, afinal só quem viveu sabe que a gente passava Coca-Cola como bronzeador, né? Rsrsr! Brincadeiras à parte, o filme tem 2h04, mas você não sente o tempo passar – tudo é muito bem resolvido, não é à toa que levou o prêmio em Veneza. Vale a pena ver!

 

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