O diretor Pablo Larrain adora uma biografia de uma figura feminina famosa, especialmente quando ela está em seus momentos mais frágeis e melancólicos. Esses foram os recortes de tempo usados em Jackie e Spencer, que deram indicações para o Oscar para Natalie Portman e Kristen Stewart, respectivamente. Acreditava-se (aliás, muitos acreditam) que o mesmo aconteceria com Angelina Jolie por sua atuação no novo filme do diretor, Maria Callas, que estreia nessa quinta nos cinemas. Talvez isso até aconteça (só saberemos no dia 23). Mas, na minha percepção, Angelina como Callas faz um ótimo papel de Angelina Jolie. #prontofalei
O filme mostra a última semana da vida de Maria Callas, o maior nome feminino da história da ópera. Já não consegue cantar, se sente solitária, somente com a companhia dos dois fiéis empregados de seu apartamento de Paris. Devido à grande quantidade de remédios, também tem alucinações, e não sabe mais o que é real e o que é fantasia de sua cabeça. Enquanto isso, recorda momentos passados quando era adolescente, o início de sua carreira e a paixão por Aristóteles Onassis.
O que achei?
Bem, vamos por partes. Larrain trata o personagem de Callas com grande reverência. É fácil ver que o mordomo Ferruccio representa não só o diretor como todos nós na audiência, que vemos a grande dama se destruir. Isso porque fica claro que ela não consegue mais viver sem sua voz, que não alcança mais as notas de outrora. Também sente falta da juventude e de todos que beijavam seus pés. É a realidade de tantas mulheres de grande talento e/ou beleza que não conseguem aceitar as rugas e a decadência.
Mas Larrain aproveita esse momento e faz um de seus filmes mais interessantes. O uso da ópera, das ruas de Paris, de momentos de incrível fotografia, tudo isso faz com que você fique com os olhos grudados na tela. Mas é preciso avisar que quem não gosta de ópera pode achar difícil suportar certos momentos. Confesso que não conheço tanto quanto gostaria, mas admiro o drama, a música. E Larrain consegue captar essa essência, que transforma seu filme em algo grandioso. Especialmente nos momentos de imaginação de uma Callas que vê tudo isso numa realidade que não existe.
E Angelina?
Então, por incrível que pareça, o problema está em sua protagonista ( já antevejo a ira mortal dos fãs de Angelina me atingindo por causa dessas palavras, rsrs.). Na minha opinião, quando temos uma personagem tão forte como Callas, a atriz tem que “desaparecer”. Não é o caso aqui. Angelina tem o mesmo olhar de tristeza e de distância que vemos em todos os red carpets, em todas as entrevistas. Não há um momento diferenciado. É claro que a gente sabe que houve um esforço por parte da atriz, que teve lições de canto, e teve sua voz mixada com a voz de Callas. Mas o que vemos na tela não é Callas, e sim Angelina. Isso é um fato perceptível já que temos acesso a vários vídeos de Callas da época. Uma pena – é bem provável que por causa disso ela tenha sido indicada/ganhado menos prêmios do que se esperaria – pelo menos até agora.