Admiro muito as canções de Amy Winehouse. E, como sempre, fico triste de ver gente com tanto talento que acaba não conseguindo suportar o peso da vida e do sucesso. Conheço pouco sobre sua história, mas estava muito curiosa para ver Back to Black, sua biografia, que estreou hoje nos cinemas. Só que tirando as músicas, e o esforço de boa parte do elenco, o filme é fraco – em vários momentos me lembrou I wanna dance with somebody – A história de Whitney Houston. Uma cantora extraordinária, uma vida desperdiçada, e uma biografia chapa branca, que não lhe faz justiça.
O filme mostra a jornada da adolescência de Amy Winehouse até a fase adulta. Sua curta carreira profissional é apresentada, desde os seus primeiros dias em Camden até a produção de seu álbum inovador, Back to Black, que serviu como um grande impulso para a fama global de Amy. A história, contada através dos olhos da cantora, explora e abraça as muitas camadas da artista icônica, além de seu relacionamento amoroso tumultuado com Blake (Jack O’Connell).
O que achei?
Tudo é muito superficial na história. O início da carreira de Amy também é mal explorado. Num momento ela fecha seu primeiro contrato, no seguinte ela já está fazendo sucesso nos Estados Unidos. A relação com drogas também fica mal resolvida. Num momento ela diz que drogas pesadas são para os fracos, no outro ela está consumindo-as. O filme também exime de culpa o pai (feito por Eddie Masdan). Na história, ele é mostrado quase como um santo. Entretanto, sempre ouvimos histórias que ele foi culpado por submeter Amy a uma agenda absurda de shows que aparentemente resultou num agravamento de seus problemas. O filme também apresenta o ex-marido Blake (feito por Jack O’Connell, menos apático do que de costume) como uma vítima como Amy.
A diretora Sam Taylor Jackson, que fez o primeiro Cinquenta Tons de Cinza, disse em entrevistas que queria afastar o conceito de “culpado” da história. Até concordo, mas o problema é que ela muda completamente uma história. Pelo menos aquela descrita no documentário Amy, que inclusive ganhou o Oscar (está na Apple TV).
E no final…
É claro que o filme vale pelo elenco. Marisa Abela, diz a lenda, cantou a maior parte das músicas com sua própria voz, depois de extenso treinamento. Se isso for realmente verdade, é admirável. As cenas de Amy com sua avó, feita com o talento de sempre por Lesley Manville, também são ótimas, tem um quê de verdade que falta no resto do filme. Vamos combinar que tanto Marisa quanto Jack parecem muito bem de saúde para serem os viciados Amy e Blake, né? Mas, é claro, há as músicas. Todas maravilhosas. Mas parecem jogadas, a serviço de contar a história confusa. E no final, o roteiro parece mostrar que seu amor/paixão/obsessão por Blake como a única coisa definitiva de sua vida. Pela forma como termina Back to Black parece ainda mais chapa branca do que nunca. Pena!