Muita gente diz que religião é algo que não se discute. E quando misturam sexo na história menos ainda. Só que o cinema gosta disso. Vários filmes resolveram juntar as duas coisas sempre com resultados controversos. Je Vous Salue Marie, de Godard, ficou muito tempo proibido no Brasil. A Última tentação de Cristo, de Scorsese, enfrentou grandes problemas para ser exibido. E agora chega mais um deles aos cinemas. É Benedetta, de Paul Verhoeven. Foi tachado como escandaloso quando foi exibido no Festival de Cannes. Teve piquete contra ele quando passou no Festival de Cinema de Nova York. Ele estreia nessa quinta no Brasil.
Logo no início de Benedetta vem o aviso de que é baseado em uma história real. Na verdade, o roteiro usa como base o livro Immodest Acts: The Life of a Lesbian Nun in Renaissance Italy, de Judith Brown. Ele mostra o retrato de uma freira católica, a irmã Benedetta Carlini (Virginie Efira). Desde muito nova, Benedetta possui aquilo que se acredita ser o dom de fazer milagres. Isso fica claro quando se muda ainda menina para um convento em Pescia. Os anos passam, e já mais velha, ela ajuda a acolher Bartolomea, uma jovem que lhe implora abrigo e protecão. Logo as duas tornam-se muito próximas, crescendo entre elas um romance ardente. Logo a madre superiora (Charlotte Rampling) e o enviado do Vaticano (Lambert Wilson) terão que resolver essa situação. Isso além de um suicídio, um cometa, e a peste chegando…
O que achei de Benedetta?
Muita gente poderá dizer que é só mais um filme de freiras transando como tinha aos montes nos anos 70. Tem isso sim. Mas, Benedetta é muito mais. É uma crítica à posição da mulher, ao poder das instituições, à corrupção. Paul Verhoeven tem um certo fascínio por histórias de dominadores e dominados. Já demonstrou isso em vários de seus filmes como Conquista Sangrenta, Instinto Selvagem e Elle. Não é diferente aqui. Mas, é claro, o diretor também adora corpos femininos. Afinal, ele fez Showgirls, né? Rsrs.
Eu gostei especialmente da história, já que o filme não entrega o que realmente está por trás das ações de Benedetta. Deixa para que a audiência decida. A direção de arte, fotografia, e principalmente o elenco funcionam muito bem. A belga Virginie Efira, trabalha de novo com Verhoeven depois de Elle. E arrasa em todos os momentos. Fiquei só chocada com sua semelhança com Kim Cattrall quando era nova, rs! E o filme ainda proporciona grandes momentos de Charlotte Rampling, Louise Chevilotte e Daphne Patakia (da série Versailles).
É claro que se você é uma pessoa muito religiosa pode se incomodar com vários aspectos da trama. Há freiras transando, nudez, Jesus visto de uma maneira muito peculiar. E ainda o uso inesperado de uma imagem de santa. Entretanto, como história e como filme, Benedetta tem aspectos fascinantes. Vale conhecer.