Num primeiro momento, a primeira lembrança que se tem quando se assiste Dor e Glória, de Pedro Almodovar, é de 8 e 1/2, de Fellini. Um diretor de cinema, que olha para trás, para sua história, enquanto vive um momento de dor no presente. É até interessante ver que é Antonio Banderas, que fez o musical Nine, a adaptação de 8 e 1/2 (e concorreu ao Tony), novamente faz o diretor que relembra seu passado. Dor e Glória estreia hoje nos cinemas, e é um filme onde Almodóvar se desnuda emocionalmente de forma total.
A História
É claro que não é uma autobiografia. É uma ficção que traz toques de autobiografia. Mas para quem acompanha a carreira de Almodóvar, é fácil ver a presença do diretor a todo o momento. O personagem principal é Salvador, um diretor de cinema que sofre com dores terríveis. Ele se isolou do público depois da morte de sua mãe, e não tem contato com o público. mas a Cinemateca de Madri resolve fazer uma homenagem e reexibir um de seus grandes sucessos, feito há 30 anos, o filme Sabor. É quando ele resolve procurar o ator principal do filme, com quem brigou na época, Alberto Crespo, feito pelo interessante Asier Etxeandia.
O reencontro dos dois traz lembranças e ainda faz com que Salvador enfrente suas dores, seus medos e suas lembranças. Isso inclui memória de sua infância, e a relação com sua mãe, vivida na juventude por Penélope Cruz, e na velhice por Julieta Serrano, a atriz de Pepi, Luci, Bom, também do diretor. E um reencontro com alguém do passado, numa participação do sempre bom ator argentino Leonardo Sbaraglia.
A crítica
O filme não me fez chorar, mas imagino que fará isso com muitos. Porque as lembranças do passado, de caminhos não trilhados, do esplendor da relva (o filme relembra uma cena de Clamor do Sexo), sempre trazem uma certa dor, uma certa mágoa. Aliás, apesar de um final esperançoso, o filme transmite uma tristeza, uma quase chegada ao fim de uma história. Mas, além disso, também é uma lição de cinema. Todos os ingredientes de Almodóvar estão lá. As cores intensas, a trilha sonora estupenda, os abraços fortes, a adoração pelas artes e por Hollywod. Isso sem contar os “seus atores”.
Penélope Cruz, Cecilia Roth, Julieta Serrano, e, é claro, Antonio Banderas. O ator foi premiado no festival de Cannes por esse filme. Sempre digo que Antonio é um ator pouco valorizado. Até em filmes ruins ele é ótimo. E quando se junta a Almodóvar, é sempre insuperável. Repare no tom de voz, mais baixo que o habitual, na forma de andar, no olhar perdido. Com ele, o filme se torna ainda mais intimista, ainda mais eficiente. É esperado que esteja na lista dos melhores do ano de várias listas, e com certeza, deverá estar entre os finalistas ao Oscar de filme estrangeiro.
Fotos de divulgação