Ela será um daqueles filmes que provocam discussões acaloradas sobre o significado das coisas, para onde vamos etc. Mas na verdade, pelo meu ponto vista, é apenas uma das mais tristes histórias que já vi. Fala sobre solidão, sobre a dificuldade se se relacionar num futuro próximo e também sobre um amor desesperado.
Quarto filme dirigido por Spike Jonze, é o primeiro feito a partir de um roteiro original seu. Como os anteriores – Quero ser John Malkovich, Adaptação, Onde vivem os Monstros -, pode parecer estranho à primeira vista, mas é muito bem realizado, com atores muito bem dirigidos e uma história aparentemente absurda que se torna bem resolvida. Seu roteiro inclusive levou o prêmio do sindicato, o Globo de Ouro e o Broadcast Film Critics, entre outros.
Ela acompanha o dia de Theodore (Joaquim Phoenix), que trabalha numa empresa especializada em escrever cartas para outras pessoas. Deprimido, praticamente sem amigos, ele resolve comprar o “primeiro sistema de inteligência artificial” para organizar sua vida e seu dia a dia. É assim que ele descobre Samantha, que não é um simples sistema operacional. Com uma voz sexy (de Scarlett Johansson), uma curiosidade e atitude humanas, Samantha vira o mundo dele de cabeça para baixo. Mas o interessante é que nada disso é tratado como ficção científica. E sim como uma situação um pouco mais além do que aquela que vivemos hoje.
O relacionamento e o amor que Theodore e Samantha começam a viver é abordado de forma plenamente normal, com todas as suas dificuldades e belezas. E aí vem a maior surpresa do filme. A incrível interpretação de Joaquim Phoenix como Theodore. Normalmente um ator antipático, acostumado a personagens azedos, ele aqui está totalmente entregue. Doce e triste, sem uma gota de sua normal rispidez. Pena que este é um ano de interpretações realmente superlativas no Oscar. Em outros anos, ele levaria fácil a estatueta, mesmo com todas as suas esquisitices passadas.
Muito se falou da interpretação de Scarlet somente como a voz de Samantha. E tudo é verdade. Ela está ótima, criando um personagem apaixonante mesmo sem corpo, sem expressão facial. O diretor havia chamado a atriz Samantha Mathis para o papel. Ela inclusive chegou a acompanhar as filmagens e interagiu com Joaquim. Mas no final, o diretor achou que precisava de algo diferente. Como não se ouviu a interpretação de Mathis, fica difícil entender qual era o caminho anterior. De qualquer maneira, ponto pra Scarlet, que subiu mais um degrau em sua carreira e teve sua voz premiada no Festival de Cinema de Roma além de indicações em vários outros. O filme ainda se dá ao luxo de ter Amy Adams, Olivia Wilde e Rooney Mara em pequenos papéis. , como a vizinha, uma possível namorada e a ex-mulher de Theodore.
Ela concorre a vários Oscars: melhor filme, canção – The Moon Song, trilha sonora, cenografia e roteiro original (para o qual é o favorito). Foi ainda eleito melhor filme pelo National Board of Review. Mas no Oscar deste ano, com tantos bons filmes, deve levar somente o prêmio de roteiro. É esperar pra ver.
Eliane Munhoz
Liliane Coelho
14 de fevereiro de 2014 às 11:43 pm
O filme é realmente muito diferente, inovador. Achei um charme, realmente envolvente. Merece o Oscar de roteiro, mas senti falta de Phoenix e Johasson entre os indicados, mas como você disse é um ano forte de interpretações.
Eduardo Pepe
16 de fevereiro de 2014 às 3:29 am
Embora o roteiro de Trapaça seja divertido, o de Dallas muito bem equilibrado entre crítica e humanismo e os de Blue Jasmine e Nebraska sejam ótimos, Ela simplesmente precisa muito do Oscar de roteiro original.