Juliette Binoche é um estrela reconhecida mundialmente. Ela sabe balancear perfeitamente sua carreira com projetos mais autorais na França com grandes produções de Hollywood. Chocolate é um de meus filmes favoritos da vida. E o filme mais recente da atriz, A Boa Esposa, atingiu mais de 600 mil espectadores aos cinemas na França. Isso após a reabertura das salas de cinema por lá em junho de 2020. Agora o filme estreia nessa quinta nos cinemas brasileiros.
A Boa Esposa se passa em 1968. Ou seja pouco antes do famoso movimento dos estudantes, que resultou em passeata e greve geral. Mas quando o filme começa, isso está tudo bem longe do universo de Paulette Van Der Beck (Binoche). Ela dirige com o marido a Escola Doméstica Van Der Beck. É um local para jovens no qual elas irão aprender a serem boas esposas. Ou seja, a cumprir seus deveres matrimoniais e cuidarem do dia a dia como perfeitas donas de casa. Mas tudo muda de repente quando ela se vê viúva e falida. Ou seja, Paulette terá que assumir a escola sozinha. É quando seu primeiro amor ressurge e ares de liberdade feminina começam a ser sentidos. Paulette se vê em meio a uma grande questão: e se a boa esposa se tornasse uma mulher livre para fazer o que quiser?
A crítica social
O filme é divertido de ver. Especialmente ao expor o ridículo de situações, especialmente aos olhos de hoje. Quando a história começa, Paulette mostra às alunas o que é necesssário para que elas se tornem boas esposas. É de rolar de rir…ou não. Porque esse é o grande ponto da crítica social do filme de Martin Provost. Através da mudança da boa esposa Paulette, o diretor descobre uma nova proposta de vida para as mulheres. Mas o filme também mostra as jovens alunas que já desejam algo mais do que saber servir uma xícara de chá.
É preciso saber um pouco da história recente da França para entender como esses sentimentos estão arraigados na cultura. Somente em 1965 as mulheres francesas puderam ter uma profissão e abrir uma conta bancária sem a permissão do marido. A mãe passou a ter direito de adicionar seu nome no sobrenome do filho apenas em 1984. Em 1990 foi reconhecido que poderia haver estupro entre cônjuges. E, dez anos depois, em 2000, a pílula do dia seguinte passou a estar disponível gratuitamente para menores nas farmácias. Em 2006, a idade legal para casamento de mulheres foi aumentada de 15 para 18.
A crítica do filme
Entretanto, é interessante que mesmo se propondo ser uma comédia ou uma farsa, o filme também tem momentos dramáticos. E estes deixam o público um tanto confuso. Ou seja, você pode estar morrendo de rir em um momento, e depois testemunhar uma tentativa de suicídio. Mas, no geral, A Boa Esposa funciona. Especialmente com sua magnífica direção de arte e com os figurinos da época. Além disso, a freira vivida por Noemie Lvovsky está perfeita, totalmente imersa na comédia.
Já Binoche pode ser um tanto enlouquecida em determinados momentos. Mas está linda e funciona na comédia e especialmente no final. Falando nisso, o final musical é incrível. Realmente adorável. Só que ficou a sensação que pertenceria a um outro filme, rsrs. Mas tudo bem, rsrs. Vale a pena!