As biografias têm sempre um certo apelo. Todo mundo quer saber mais um pouco sobre a vida de gente famosa. Nos casos de cantores, os dois últimos filmes do gênero foram grande sucesso, Bohemian Rhapsody e Rocketman. No caso dos atores, muita gente que não a conhecia, passou a saber quem era Sharon Tate após o lançamento – e sucesso – de Era uma Vez em Hollywood. Será que o mesmo acontecerá com Jean Seberg? Hoje estreia nos cinemas Seberg Contra Todos, que conta um período da estrela que foi uma das atrizes mais lindas da história do cinema. E que passou por situações horríveis, sendo perseguida pelo FBI.
A história
Quando o filme começa, Jean Seberg (Kristen Stewart) é já uma conhecida atriz. Mas ela busca algo mais em sua vida. Resolve então apoiar o movimento pelos direitos civis, e acaba envolvida com Hakim Jamal (Anthony Mackie), um carismático ativista do movimento Black Power. Os dois acabam tendo um caso. Esse envolvimento tanto político como romântico fazem dela um alvo do FBI, que não viam com bons olhos uma atriz branca envolvida com os movimentos negros. Os agentes Jack Solomon (Jack O’Connell) e Carl Kowalski (Vince Vaughn) são então enviados para documentar esta relação, e também destruir a atriz de todas as maneiras possíveis.
A crítica
Assim como em Era uma Vez em Hollywood, o roteiro de Seberg pretende contar a história de uma personagem real de Hollywood, adicionando outros não reais para servirem como a visão da audiência. É o caso dos agentes do FBI, especialmente Jack Solomon. Talvez se Jean tivesse tido um agente como ele agindo daquela maneira , o final de sua vida poderia ser diferente. De qualquer maneira, o acompanhamento da vida de Solomon e de outros agentes acaba tirando o foco do que realmente importa, a personagem de Jean Seberg.
Kristen Stewart é uma grande atriz, muitas vezes prejudicada por diretores que não tem pulso para conter seus trejeitos. É o caso aqui. Ao contrário de interpretações como as de Rami Malek ou Taron Egerton, não é fácil enxergar Jean na atuação de Kristen. Com exceção do corte de cabelo, Kristen está mais uma vez fazendo Kristen. Muito bem, diga-se de passagem, inclusive com cenas de nudez. É um papel rebelde e feminista, que ela se entrega de corpo e alma. Um personagem atormentado do jeito que Kristen gosta e sabe incorporar, mas não é Jean Seberg.
É uma pena, porque o compromisso de contar uma história absurda e, como sabemos, verdadeira, deveria ter tido um diretor e um roteiro mais fortes. Alguém capaz de provocar a revolta que essa história deveria inspirar. Mas infelizmente, a última tomada dá impressão de um final feliz, que só é desmentido pelo aviso do que aconteceu na realidade apenas alguns anos depois.
Quem foi Jean Seberg?
Jean teve um início com uma aparente história de Cinderela. Foi escolhida por Otto Preminger entre mais de 8 mil garotas para o papel principal do filme Joana D’Arc em 1957. Só que o temperamento do diretor deixou marcas físicas (uma delas pode ser vista em Seberg Contra Todos) e psicológicas. Depois de estrelar Bom dia, Tristeza (onde pela primeira vez a palavra virgem foi pronunciada num filme em Hollywood) ainda com Preminger, ela estrelou um de seus maiores sucessos , O Rato que Ruge. Logo depois foi para Paris para filmar Acossado, de Jean Luc Goddard. Tornou-se uma estrela mundial. Sua carreira teve mais de 30 filmes, sendo que seu preferido foi Lilith, com Warren Beatty.
Desde a perseguição pelo FBI (descrita no filme), e a morte de sua filha, com apenas dois dias, Jean nunca mais se recuperou de uma depressão. Diz a lenda que todos os anos no aniversário da filha, ela tentava se matar. Em 1979, aos 40 anos, foi encontrada morta dentro de seu carro às margens do rio Sena em Paris. O motivo da morte foi declarado com uma overdose de barbitúricos. Mas até hoje ainda há um mistério envolvendo essa história.