O diretor François Ozon é quase uma unanimidade entre os críticos de cinema. Admito que não posso falar muito sobre ele, já que só vi dois de seus filmes, 8 Mulheres e Potiche – Esposa Troféu, ambos com Catherine Deneuve. Gosto de ambos, mas não acho que sejam tão especiais. Essa semana, o mais recente de seus filmes estreou nos cinemas por aqui, O Amante Duplo, depois de participar do Festival de Cannes de 2017. É outro daqueles filmes que constrói uma história para simplesmente mudar totalmente o rumo das coisas nos 10, 15 minutos finais. De qualquer maneira, o filme surpreende pelo seu erotismo, e algumas imagens que chegam a ser até chocantes, que lhe renderam a censura de 18 anos.
Para se ter uma ideia, a primeira cena já mostra um close beeem amplo de uma vagina durante um exame ginecológico. Ela é de Chloe, que está no médico porque têm terríveis dores abdominais. O médico, que não consegue achar nada, manda que ela se alimente melhor e procure um psiquiatra. É quando ela começa a frequentar o consultório de Paul, só que isso não dura muito porque ele diz que não pode mais atendê-la porque se apaixonou por ela. Logo, os dois estão morando juntos, mas um belo dia Chloe vê na rua um homem igualzinho a Paul. Ela logo descobre que se trata de um irmão gêmeo de Paul, Louis, também psiquiatra, e que os dois não se falam. Mas Louis parece ver através dela, e diz que conseguirá curá-la com seus próprios métodos, que incluem tardes de sexo selvagem.
Mas, é obvio que se tratando de um filme francês de um diretor cult, as coisas não seriam tão simples assim, não é? Lá pelo meio, você percebe que virá ao final uma explicação psicológica para tudo que está acontecendo, que inclui uma participação da personagem de Jaqueline Bisset, que aparece em duas cenas. Durante todo o filme, Ozon flerta com vários gêneros – mistério, realismo fantástico, suspense, romance – e usa várias referências. A mais óbvia é Gêmeos – Mórbida Semelhança, de David Cronnemberg, mas também há Irmãs Diabólicas de Brian de Palma, e até mesmo Um Corpo que Cai ,de Hitchcock ( até consigo enxergar bastante de Marnie – Confissões de uma Ladra). Com isso, o final, “a explicação” soa estranha e absurda. Mas também deixa a sensação de não saber ao certo o que foi real e o que foi imaginação. Aparentemente, essa era a intenção do diretor.
Não vou entrar aqui nos méritos das interpretações dos significados, dos sub-textos, e da psicologia tanto dos personagens quanto da historia. Até porque acho muito chato, e também porque cada um tem o direito de interpretar o resultado final da maneira como sua experiência de vida determinar. Mas, o que posso dizer é que o filme é bem erótico, daquele jeito que os franceses sabem fazer sem cair no pornô, mesmo que mostre praticamente tudo. Além disso, tudo é muito bem fotografado, com uma elegância fora do comum, ao som de uma bela trilha que inclui até Elvis (As Long as I Have You). O problema é mesmo aquele final…