Histórias poderosas e revoltantes de racismo nos Estados Unidos, e ainda baseadas em fatos reais, são uma constante no cinema americano recente. Só para citar alguns , é só lembrar Infiltrado na Klan, Estrelas Além do Tempo e o pouco conhecido mas excelente Mudbound: Lágrimas sobre o Mississipi. No caso de como o sistema judiciário americano funciona com dois pesos e duas medidas desde sempre, houve também a série da Netflix, Olhos que condenam. Mas fiquei pensando muito em um outro filme enquanto assistia Luta por Justiça, que estreou hoje nos cinemas. Foi em Marshall, estrelado por Chadwick Boseman, o Pantera Negra. Ele conta a história verdadeira de Thurgood Marshall, o primeiro advogado negro que, nos anos 40, vai defender um motorista também negro, acusado injustamente de estuprar uma mulher. Se ainda não viu, vale a pena, está disponível no Telecine Play.
Um pouco de Luta por Justiça
O princípio da história é basicamente o mesmo de Luta por Justiça. Só que com uma diferença de 50 anos entre um e outro . Ou seja, certas coisas nunca mudam. Também é baseado numa história real, contada no livro do advogado Bryan Stevenson. Mesmo vindo de uma família humilde, Stevenson conseguiu se formar na melhor universidade dos Estados Unidos, Harvard. E mesmo tendo a oportunidade de escolher qualquer tipo de emprego, resolveu defender homens que estavam no corredor da morte no estado conhecido como o mais racista do país, o Alabama. Um dos casos é o de Johnny D, acusado injustamente de assassinar uma jovem mulher branca. Ao analisar o processo , Stevenson percebe que está cheio de furos, mas mesmo assim, Johnny D foi sentenciado à morte. Cabe a ele lutar contra o tempo e contra a corrupção para finalmente fazer justiça.
É uma daquelas histórias que vai deixar você totalmente desconfortável. A injustiça é tão grande e tão descarada que você se pergunta a todo o tempo como tal coisa ainda pode acontecer em tempos tão recentes. O diretor Destin Creton, que já tinha feito Castelo de Vidro, com Brie Larson, soube captar a emoção de cada momento, o que compensa a narrativa quadradinha. Mesmo sem inovações, o filme é competente, tem uma história importante que deve ser conhecida, e um elenco em excelente momento.
O elenco
Jamie Foxx foi indicado ao SAG’s de coadjuvante pelo papel de Johnny D, mas ficou fora das demais premiações. Ele está realmente ótimo. Só que dois outros realmente chamaram muito mais a minha atenção. Tim Blake Nelson, como a testemunha de acusação , e principalmente Rob Morgan. Eu já achava que este último tinha sido injustamente esquecido pelo Oscar no ano de Mudbound: Lágrimas doMississipi. Agora novamente ele me levou às lágrimas como o companheiro de corredor da morte de Johnny D.
A associação de Brie Larson com o diretor não valeu muito. Como a assistente do advogado, ela está apagada, sendo uma coadjuvante de luxo que tem pouco a fazer. Uma pena, hoje em dia, acho que Brie foi um daqueles enganos do Oscar . Nem como Capitã Marvel eu acho que ela funciona. Mas de qualquer maneira, o filme é de Michael B.Jordan. Popular, carismático, bom ator – alguns acham bonito- , foi ele quem fez o filme sair do papel. Atuando como produtor e ator principal, possibilitou que a gente conhecesse essa história comovente . E fica a dica: leve o lenço. Na sessão para a imprensa, era possível ouvir várias fungadas durante a exibição.