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O incômodo da verdade no eficiente Pequenas Coisas como Estas

Pequenas Coisas como Estas, que estreia nessa quinta nos cinemas, foi o primeiro papel de Cillian Murphy após o Oscar por Oppenheimer. E, ao contrário deste, Pequenas Coisas… é um filme pequeno, que se passa na Irlanda em 1985. Enquanto Cillian filmava Oppenheimer, ele mostrou ao projeto para Matt Damon, que também estava no filme, e ele e Ben Affleck entraram como produtores na história. O filme teve sua estreia no Festival de Berlim.

O centro da história são as Lavanderias Madalena. Para quem não sabe, as lavanderias de Madalena eram asilos comandados por freiras para mulheres que eram obrigadas a trabalhar na lavagem de roupa e na costura. Essas instituições eram punitivas e parecidas com prisões. Eram enviadas para lá mulheres com deficiência física e mental, rebeldes, mães solteiras e suas filhas, vítimas de estupro e aquelas que se acreditava possuir caráter duvidoso como as prostitutas. Estima-se que 30 mil mulheres passaram por essas instituições apenas naquele país até a última Lavanderia fechar suas portas inacreditavelmente só em 1996.

A história

As Lavanderias já foram tema de filmes como Filomena, e séries, como A Mulher na Parede, entre outros. É sempre algo difícil de engolir. Aqui em Pequenas Coisas como Estas,  Bill Furlong (Cillian Murphy) é um vendedor de carvão em uma pequena cidade irlandesa dominada pela influência da Igreja Católica. Às vésperas do Natal, Bill faz uma descoberta chocante ao encontrar uma mulher aprisionada em um galpão de carvão. Esta é  vítima de punições das freiras da Lavanderias Madalena, onde a Igreja mantinha aquelas que eram “fora do padrão”.

Este encontro provoca um conflito interno profundo em Bill, que se vê dividido entre a emoção e a moralidade. À medida que os segredos obscuros da cidade começam a emergir, Bill confronta suas próprias memórias de infância, repletas de pobreza e anseios não realizados. Com isso, ele se questiona sobre o que significa realmente a bondade e a compaixão em um mundo marcado pelo silêncio e pela opressão.

O que achei?

O filme alterna o passado, a infância de Bill, com sua mãe que foi também oprimida pelas lavanderias, mas encontrou alguém que lhe deu a mão. E é isso que o incomoda ainda mais que esse tipo de situação persista  (e para nós da audiência também). Especialmente porque ele tem quatro filhas, e as imagina passando por esse sofrimento  do tratamento das lavanderias.  Até pela própria experiência de vida de Bill, e do ambiente cinzento da Irlanda (um belo trabalho de fotografia) no inverno, o filme traz uma sensação de tristeza e falta de esperança todo o tempo. A partir do momento em que vemos como as pessoas reagem ao domínio das freiras a coisa vai ficando ainda mais desconfortável.

E quando Emily Watson (ótima) entra como a reverenda madre, você se sente totalmente oprimido pela sua presença  – alguém sem a menor compaixão. É quando percebemos que um olhar de ameaça real pode ser mais aterrorizante do que qualquer filme de horror. E ainda que histórias reais podem ser mais inimagináveis do que qualquer obra de ficção.

Pequenas Coisas Como Estas é um daqueles filmes bons que eu sinceramente nunca mais vou querer rever. É incômodo demais  – e muito eficiente em mostrar tanto sofrimento.

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