O documentário Leaving Neverland (Deixando Neverland) vem provocando as mais apaixonadas reações . Tanto contra quanto a favor. Isso porque ele conta a história de dois homens que, quando crianças, teriam sido abusados por Michael Jackson. Já faz muito tempo que a gente ouve essas histórias com relação a Michael. Nunca nada foi efetivamente provado. Mas agora, dez anos depois de sua morte, o documentário de quatro horas realmente impressiona. É pesado, marcante, revoltante, mas muito bom. Ele será exibido aqui em duas partes no Brasil neste sábado (16) e domingo (17) na HBO, às 20h.
A História
James Safechuck era um ator infantil, que fez uma participação em um comercial da Pepsi junto com Michael Jackson em 1986. Fascinado por Safechuck, em poucos meses o cantor se transformou em amigo da família. Já Wade Robson era um bailarino mirim de Brisbane, Austrália. Em 1987, aos 5 anos, teve a oportunidade de conhecer o artista após vencer um concurso em que o imitava. Jackson entrou nas vidas destas famílias de forma semelhante. Sua estratégia foi sutil, sempre justificando suas atitudes como expressões de afeto pelos meninos. O artista se tornou amigo, mentor e confidente das crianças, expressando seu amor pelos dois, enquanto gradualmente os isolava das famílias.
As visitas rapidamente começaram a incluir estadias na casa, A mansão Neverland, onde Jackson dormiria no mesmo quarto que os seus jovens hóspedes, afastados dos pais. Tanto Robson como Safechuck descrevem como o que teve início como inocentes festas do pijama levou a um contato íntimo com o artista. Quando os abusos sexuais começaram, Robson tinha 7 anos e Safechuck, 10. Por razões óbvias, desde o início, Jackson insistiu para que Robson e Safechuck mantivessem em segredo a relação sexual entre eles. Robson se lembra de ter acreditado quando Jackson lhe disse que os dois ficariam “presos para o resto da vida” se alguém soubesse.
O documentário é extremamente descritivo, todas as cenas que Robson e Safechuck mencionam são possíveis de ser visualizadas, pelo seu detalhamento. Talvez isso seja o mais difícil, pesado e impressionante. As primeiras duas horas descrevem o início, apogeu e fim das histórias de Michael com ambos. As outras duas mostram como a relação com o superstar afetou a vida de ambos. Além disso, como Michael e sua morte faziam com que a experiência fosse cada vez mais traumática.
Depois de Michael
Robson se tornou um dos coreógrafos jovens mais bem-sucedidos da sua geração. Trabalhou com a banda NSYNC e com Britney Spears nos seus períodos de maior apogeu. Mas o sucesso foi ofuscado pela melancolia e pela depressão. Safechuck, que queria ser diretor de cinema e músico de rock, também enfrentou crises de depressão e dependência química. Ambos se casaram e tiveram filhos. À medida que as crianças cresciam, a agitação emocional deles aumentava, o que mostra como as sequelas do abuso sexual podem se manifestar décadas mais tarde.
Segundo fica claro no documentário, em função das sucessivas crises emocionais, os dois, agora adultos, se dispuseram a contar a verdade para as suas famílias. Além dos dois, parentes relembram quando Robson e Safechuck se abriram pela primeira vez, quando compreenderam os danos deixados pelo abuso físico. Depois, começaram a enfrentar o trauma, tentando compreender suas recordações e sanar as relações familiares rompidas.
O que ficou…
Leaving Neverland foi um enorme sucesso de audiência para a HBO nos Estados Unidos. Foi a terceira maior do canal nos últimos dez anos. Provocou a ira tanto dos defensores de Michael Jackson, como daqueles que acreditaram na história. Várias rádios anunciaram que não iriam mais tocar as músicas do artista. A família processou os produtores e a HBO.
O que fica no final é que obviamente era um homem doente, mas, ao mesmo tempo, extremamente envolvente. O mais difícil é entender como as mães dessas crianças deixaram que seus filhos de 7 e 10 anos, respectivamente, dormissem com um homem de mais de 30. Isso a portas fechadas. O custo de um deslumbramento com a vida que um astro como Michael poderia proporcionar. Verdade ou mentira, isso é o que revolta mais.