Tenho algumas lembranças da época da morte do presidente Tancredo Neves. Lembro das pessoas dizendo que teria sido um tiro, que os militares continuariam no poder, que ele não sairia vivo do hospital. Mas de alguma maneira, a memória mais marcante da época era a do porta-voz Antonio Brito. Lembro-me que todo mundo ficava aguardando na frente da TV pré-internet para saber qual era a novidade, sempre esperando pelo pior. E no final, a notícia da morte de Tancredo veio, e nos jogou em tempos negros sob o governo do vice José Sarney. Mas, aqueles dias em que Tancredo ficou no hospital sempre foram meio nebulosos.
Agora, baseado no livro do mesmo nome, de Luis Mir (disponível nas livrarias), chega aos cinemas o filme O Paciente: O Caso Tancredo Neves, que pretende revelar de uma vez por todas que tudo não passou da mais pura incompetência de todos os envolvidos, aliada à necessidade de atender aos egos daqueles que tinham grande importância no momento. Com um clima de suspense, e uma tensão contínua, o filme começa mostrando os momentos que antecedem a posse de Tancredo depois ser eleito indiretamente. Ele não considera as dores que vem sentindo, e se recusa a ser levado para o hospital pra se cuidar, o que seria considerada uma demonstração de fraqueza.
A partir daí, acontecem uma sucessão de erros médicos, de batalhas de egos, de uma incompetência chocante, mesmo considerando a falta de modernidade do hospital de Brasília na época. Na sessão do filme para imprensa era possível ouvir os suspiros chocados e incrédulos a cada besteira que faziam com o pobre de Tancredo. Isso leva a momentos claros onde a família fica perdida, e o porta voz também, com médicos e políticos querendo aparecer mais que o doente.
Tudo isso é mostrado com maestria pelo diretor Sergio Rezende, provavelmente no melhor filme de sua carreira. Para mim, que acompanho praticamente todas as séries de médicos da TV, o filme é extremamente competente em contar a história de maneira a ser perfeitamente compreendida pelo público leigo. O roteiro é fluido, a edição primorosa, e para quem viveu a época, ou pouco se lembra, como é o meu caso, é uma verdadeira aula. Sem ser maçante, muito pelo contrário.
Com Othon Bastos no papel principal, o filme prima pelos seus coadjuvantes. Destaque para Esther Goes como Dona Risoleta, Paulo Betti, Leonardo Medeiros e Otavio Muller como os médicos, e também Emilio Dantas, o Beto Falcão, galã de Segundo Sol, como Antonio Britto. Ele, aliás tem duas cenas brilhantes no filme: quando chora ao perceber que a situação não tem jeito, e , é claro, no final, com o anúncio inevitável.
Eu tive a oportunidade de conversar com ele e com Esther sobre o filme. Você pode ver a entrevista abaixo: