O projeto de Pacarrete já existia há um bom tempo na cabeça do diretor e roteirista Allan Deberton. E, no ano passado, finalmente quando ficou pronto, viajou por vários festivais do mundo, como China e Índia. Aqui no Brasil, ganhou vários prêmios, inclusive o prestigiado Festival de Gramado. Só que veio a pandemia, e o lançamento foi suspenso. Só agora (26) vai chegar aos cinemas.
Já nos créditos iniciais, quando essa mulher chamada Pacarrete (Marcélia Cartaxo) está varrendo a calçada já é perceptível que ela é muito diferente. Aliás, para mim, essa é a melhor sequência do filme. Pacarrete é uma bailarina incomum que vive na cidade de Russas, no interior do Ceará. Ela admira as coisas belas, gosta de música clássica. Ou seja, se sente um peixe fora d’água na cidade. Mas, na véspera da festa de 200 anos de Russas, ela decide fazer uma apresentação de dança, como presente para o povo. O problema é que ninguém mais gosta da ideia.
A história é baseada nas lembranças do diretor de uma mulher que realmente se chamava Pacarrete e vivia em Russas. Tem como base a comédia. No meu caso, tenho sempre um certo problema de rir com personagens que criam uma carcaça para esconder a tristeza profunda com a incompreensão dos outros. Foi o caso com Pacarrete. Marcelia Cartaxo tem uma atuação primorosa, superlativa, como a personagem principal. É cheia de nuances, e por isso mesmo, me deixou ainda mais triste no final da história.
Mas, na verdade, o filme não me conquistou. Na metade final, quando os problemas reais de Pacarrete finalmente vem à tona, confesso que foi difícil acompanhar. Entretanto, essa é uma análise minha. A verdade é que Pacarrete é aquele tipo de filme que gostar ou não depende muito sobre qual é sua forma de ver a vida. Tenho vários colegas críticos que amaram. Não foi o meu caso.
Entretanto, é claro que deve se louvar a produção bem cuidada. Trilha sonora ótima, belo figurino, maquiagem, e é claro, Marcélia. Eu inclusive tive a oportunidade de conversar com a atriz e com o diretor Allan Deberton por zoom. Falamos sobre o início do projeto, curiosidades, e sobre a carreira internacional de Pacarrete. Os dois foram super simpáticos.