Estava bem curiosa para ver Passagens, que ainda está em cartaz nos cinemas. Perdi a sessão para a imprensa, e ainda não achei tempo de vê-lo no cinema. Mas, meus amigo José Augusto Paulo o viu lá na Europa, onde o lançamento está sendo bem badalado. Veja aqui o que ele achou:
Passagens
Existem filmes que nos fazem pensar se um personagem nos irrita porque é muito bem (ou talvez muito mal) interpretado ou se é muito bem (e, de novo, talvez muito mal) escrito. Passagens, uma produção franco-alemã que estreou ha alguns dias atrás aqui na Europa, e cuja promoção tem sido intensa, me fez ponderar como descrevi acima.
Eu já havia lido sobre esse filme dado a polêmica do certificado que recebeu nos EUA. Foi o mais alto, somente para maiores de 18 anos, e houve discussões sobre se isto não seria um exagero. Digamos que não é um filme para menores. As cenas de sexo são claras, mas não explícitas, e não mostra nudez frontal. Portanto, a polêmica, a intensa promoção (pôsteres por toda parte, porta copos em alguns bares, anúncios em jornais e revistas), e a minha admiração pelo trabalho de Ben Whishaw me deixaram curioso. Fui ao cinema assisti-lo.
A história
A história em si quase me lembrava Jules e Jim: Uma Mulher para Dois. Tomas (o dançarino alemão Franz Rogowski, muito badalado e no momento o queridinho de diretores europeus) e o marido Martin (Ben Whishaw, de O retorno de Mary Poppins e outros trabalhos excelentes) passam por um certo marasmo no seu relacionamento. É quando o narcisista Tomas começa a se interessar por Agathe (Adèle Exarchopoulos de Azul é a Cor mais Quente ). Essa paixão deles leva Martin a se interessar por Amad (Erwan Kepoa Falé). Isso daria um drama bom, talvez intenso.
Mas Tomas por vezes está interessado em Agathe e por vezes por Martin. Vale dizer que chegamos a conclusão no final que é o narcisismo dele que não aguenta não ser querido pelos dois. É também a faceta do personagem que mais nos irrita – bem interpretado e escrito. Mas também há muitas pausas nos diálogos. Há aquelas rodadas feitas em um só take, bicicleta a correr pelas ruas de Paris (muito bem filmado, mas talvez desnecessário a trama). Acaba sendo um daqueles filmes que acaba sem nos darmos conta.
Mas, vale a pena?
Vale pela interpretação dos três personagens principais, por nos fazer pensar em pessoas que eles nos lembram. E também por não mostrar a Paris de sempre. A visão aqui é a de uma região mais periférica. Além disso, vale por ser uma mostra perfeita de como se fazer um filme ao redor de um personagem irritante. Portanto, eu não diria que o filme é uma perda de tempo. Entretanto, também não é algo que justifique o ‘barulho’ que está a fazer.