É preciso avisar para todos aqueles que forem assistir Mank na Netflix que ele não é um filme fácil. Primeiro porque ele tem um monte de referências da Era de Ouro de Hollywood, que só quem já estudou muito vai reconhecer. Segundo porque é primordial ter visto Cidadão Kane algum dia na vida. Este, que durante muitos anos foi considerado o melhor filme da história, é o epicentro de toda a trama. Além disso, Mank se inspira na fotografia, em algumas cenas, na trilha do filme de Orson Welles, que está disponível para aluguel ou compra no Google Play, Looke e Microsoft.
A história
A história de Mank conta justamente os bastidores que aconteceram antes do início das filmagens de Cidadão Kane. Herman J. Mankiewicz (Gary Oldman) é contratado por menino prodígio Orson Welles para escrever uma história para seu filme. Qualquer história. Herman é um jornalista extremamente talentoso, mas tem seus próprios demônios que o atormentam. E isso inclusive o leva a beber indiscriminadamente. Ele vai então para um local afastado, aos cuidados de uma governanta (Lily Collins), para que possa produzir um roteiro. Nesse ponto, o filme alterna presente e passado. Especialmente a história de Mank com o magnata William Randolph Hearst (Charles Dance), e sua amante, a atriz Marion Davies (Amanda Seyfried).
A crítica
Alguns destaques para aqueles que vão se aventurar a assistir Mank. A fotografia de um belíssimo preto e branco, a direção, a homenagem a cenas e lembranças de Cidadão Kane. Tudo isso é brilhante. Mas como acontece normalmente, faltou um roteiro mais poderoso, e principalmente mais linear. Este foi escrito pelo falecido Jack Fincher, pai do diretor David Fincher. Toda a história política de Mank, com o envolvimento do chefão da MGM, Louis B. Mayer, e com o milionário William Randolph Hearst, é complicada e se perde no roteiro. Em contrapartida, algumas situações que todos os cinéfilos gostariam de ver fica restrita a uma cena. É o caso da famosa discussão com Orson Welles sobre quem seria realmente o autor do roteiro do filme.
É claro que no meu caso, que adoro o cinema de Hollywood dos anos 30, 40, é como se fosse um parque de diversões. Referências à gente como Irving Thalberg, Norma Shearer, Ben Hecht e até ao irmão de Herman, Joseph Mankiewicz (que depois se tornaria um diretor premiado), são uma delícia de ver. Mas, para o público em geral, que não tem acesso a esse conhecimento, Mank deve ser um porre de assistir. Rs, um daqueles dignos do personagem! Rsrs!
O elenco
Gary Oldman está bem, como sempre, mas é obviamente muito velho para o papel. Ele já passou dos 60, enquanto Mank tinha por volta de 30 nos flashbacks. Arliss Howard está ótimo como Louis B. Mayer, e Tom Burke é uma surpresa boa como Orson Welles. Lily Collins tem pouco a fazer, mas Amanda Seyfried está um primor como Marion Davies. Eu já li uma biografia de Marion, chamada The Times We Had, e posso dizer que Amanda capturou perfeitamente a essência dessa mulher. Ela era muito mais inteligente do que aparentava. E também genuinamente apaixonada por William Randolph Hearst. Amanda ilumina a tela quando aparece. A gente fica querendo ver mais sobre Marion no filme, e menos sobre Mank.