Eu tenho algumas reações que são um pouco diferentes da maioria. Nunca consegui dar risada quando vejo uma pessoa caindo, por exemplo. Também não sou fã daquelas situações em que um expõe o outro ao ridículo. Mas há uma vertente de filmes e séries com esse tipo de comédia. Lembro especialmente de Jackass, e é claro, Borat. Por causa disso, acabei nunca assistindo o primeiro Borat, de 2006. O filme foi um enorme sucesso. Rendeu mais de 260 milhões em todo o mundo e transformou Sacha Baron Cohen em astro. O filme está disponível atualmente para compra e aluguel na Apple TV, Microsoft e Google Play. E só agora, 14 anos depois, Sacha voltou ao personagem em Borat: Fita de Cinema Seguinte, que estreou na Amazon Prime Vídeo.
A história
O filme tem algumas diferenças do original. Especialmente porque depois do sucesso do primeiro filme, ficou difícil fazer os sketches sem que pessoas o reconheçam. Isso é até o tema de uma das piadas do filme. Há inclusive a ideia dos vários disfarces de Borat, para resolver esse ponto. Portanto, ele resolveu contar uma história com mais linearidade do que a primeira vez.
O longa foi filmado na quarentena (preste atenção na participação relâmpago de Tom Hanks) e conta mais uma história do icônico jornalista do Cazaquistão. Ele passou os últimos 14 anos cumprindo pena quebrando pedras em seu país de origem por causa da vergonha mundial de sua última aventura. Mas é chamado para voltar aos Estados Unidos e construir uma ponte de amizade com o país. O plano original era presentear o vice presidente Mike Pence com um macaco. Mas devido a algumas situações, ele o substitui por sua filha de 15 anos, Tutar ( a incrível Maria Bakalova). O filme passa por várias situações que os dois passam tentando alcançar seu objetivo.
A crítica
Para mim ainda é inconcebível que pessoas comuns aceitem participar de situações como as descritas no filme- o gênero chamado mockumentary / falso documentário. Mas é perfeitamente em sintonia com aqueles que querem fazer que suas vozes sejam ouvidas, mesmo que seja para falar enormes absurdos. E Sacha Baron Cohen sabe se aproveitar totalmente disso. Por exemplo, há um momento no filme em que Borat fica hospedado na casa de dois homens super conservadores. Diz a lenda que ator não saiu do personagem por cinco dias enquanto ficava na casa desses dois homens, que falavam as coisas mais inacreditáveis.
Ainda há, é claro, os momentos nojentos. Como suportar a cena do baile?? Só tendo muito estômago! Argh! Mas no fundo, esse novo Borat é uma grande defesa das liberdades. Seja no que diz respeito ao tratamento das mulheres , seja no relacionamento de pai e filha, seja no desprezo com que trata certos discursos de pessoas e políticos. E, é claro, os momentos que mais chamam a atenção acontecem quando Borat se aproxima destes últimos. Ao mostrar o discurso do vice-presidente Mike Pence em uma convenção no início da pandemia, demonstra o total despreparo e enganação de suas palavras. E, é claro, há a situação com Rudolph Giuliani.
Rudolph Giuliani
Todo mundo só está falando isso na internet. O ex-prefeito de Nova York dava uma entrevista para Maria Bakalova, que estava se fazendo passar por uma jornalista de um canal conservador. Convidado a subir para o quarto do hotel, Giuliani se mostra galanteador, bebe, e ainda passa as mãos nela. Após remover o microfone, se deita na cama e coloca as mãos para dentro das calças, aparentando tocar seus genitais. É nesse momento que Coen, caracterizado como Borat, o interrompe. Este entra no quarto aos gritos, dizendo a garota tem apenas 15 anos e ” é velha demais para você”. É um momento chocante! Giuliani disse depois que a cena caiu na internet que ele estava simplesmente arrumando sua camisa. Sei…
E no final…
Borat: Fita de Cinema Seguinte é um filme cheio de desníveis. Sim , você vai dar muita risada! Mas também vai provavelmente ficar chocado com muita coisa. E também há um momento que se perde um pouco, insistindo numa mesma piada. Mas, com a resolução final, ele se redime, fazendo com que todos fiquem com uma boa lembrança da história. Também pede que as pessoas votem, ou seja, as coisas só podem mudar com um voto consciente. Aliás, se você é um conservador ferrenho, é melhor ficar longe do filme, já que há uma referência ao presidente do Brasil.