Talvez você nunca tenha ouvido falar de Wilson Simonal. Mas nos anos 70 ele era um dos maiores nomes da música brasileira. Tinha um estilo todo próprio, um programa na TV, e várias canções entre as mais tocadas nas rádios. Mas aí aconteceu o problema. Wilson foi acusado de ser um informante do governo da ditadura na época. Verdade ou não, sua carreira acabou. Essa história é o tema de Simonal, cinebiografia que estreia essa semana nos cinemas.
A história
O filme começa contando a história de Simonal(Fabrício Boliveira) desde o tempo em que era um rapaz pobre, que cantava num quarteto. Depois de ser descoberto por Carlos Imperial (Leandro Hassum), passou a subir na carreira como intérprete. Dotado de um recurso vocal assombroso e domínio de palco excepcional, Simonal consegue transformar suas inseguranças da infância em grandes conquistas na idade adulta. Uma vez no topo, passa a se sentir invencível: exibe a sua riqueza e gosto por carrões e mulheres; faz propaganda de grandes marcas; e se recusa a defender um discurso engajado contra a ditadura. Até que resolve ameaçar seu contador quando se vê com problemas financeiros, graças a seus gastos descontrolados, e acaba vendo seu nome envolvido com o Dops.
A crítica
Como a maioria das cinebiografias, o filme peca pela falta de mais informações sobre determinadas fases do músico. Concentra-se bastante na relação com a mulher, mas pouco se mostra sobre a razão de algumas de suas reações. Isso é um problema de contar a história de uma vida em apenas duas horas. Sempre acho que o formato de minissérie é mais eficiente nesses casos.
Entretanto, Simonal tem uma produção de primeira linha, com uma bela reconstituição de época. Mostra os maiores sucessos de Simonal – eu confesso que só conhecia Meu limão, meu limoeiro. E ainda tem uma atuação incrível de Fabrício Boliveira como Simonal. Ele é sempre um ótimo ator, e tem uma ótima química com Isis Valverde. Eles, que já atuaram juntos em Faroeste Caboclo, aqui são marido e mulher.
No final, o filme deixa no ar a resposta para a grande pergunta. Provavelmente somente Simonal e o agente do Dops poderia esclarecer isso. O que você acha depende muito daquilo que você acredita ou defende. De qualquer maneira, culpado ou inocente, Wilson Simonal teve um fim de vida precoce e triste, condenado por algo que pode ou não ter feito. Os filhos de Simonal, Wilson Simoninha e Max de Castro são co-produtores do filme. Não creio que ele será, pelo menos ao ser exibido no cinema, o que irá apresentar esse grande talento para as gerações de hoje. É provável que não consiga achar um público tão grande assim. Quem sabe, quando virar minissérie de TV …
Outras informações
- Em 2003, concluído o processo, Wilson Simonal foi moralmente reabilitado pela Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB, em julgamento simbólico com referência às suspeitas de colaboração do cantor com os órgãos de informação do regime militar.
- Em 2009, foi lançado o documentário Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei, dirigido por Claudio Manoel, Micael Langer e Calvito Leal. Na ocasião, Claudio Manoel chegou a dizer que Simonal “pagou uma pena dura demais. Desproporcional ao que ele fez, porque sua condenação foi até o fim da vida. Para ele, não teve anistia”. O documentário está disponível no YouTube.
E ainda…
- No mesmo ano, também foi lançada a biografia Nem Vem que Não Tem – A Vida e o Veneno de Wilson Simonal. Segundo Marcus Preto, seu autor, o jornalista Ricardo Alexandre, apresenta fatos que tentam levar o leitor a acreditar na inocência alegada por Simonal.
- Em 2011, foi lançado o livro Simonal: quem não tem swing morre com a boca cheia de formiga, do historiador Gustavo Alonso, pela Editora Record. Nele, o autor mostra um painel complexo dos anos 60/70. E deixa claro que Simonal não foi o único que flertou com o regime, e problematiza a recente reabilitação do cantor.
- Em 5 de setembro de 2012, o Jornal do Brasil publicou matéria na qual divulgou documentos de 1971 considerados secretos pelos militares, Nele constavam nomes de artistas tidos como simpatizantes da ditadura. E que por isso estavam supostamente sendo perseguidos por publicações como O Pasquim e A Última Hora. Nomes como Agnaldo Timóteo, Antônio Marcos, Clara Nunes, Wanderley Cardoso e Roberto Carlos, e também Wilson Simonal.