Houve um tempo em que Jackie Kennedy (depois Onassis) era uma das mulheres mais famosas do mundo. Hoje, mais de 20 anos após a sua morte, é pouco provável que alguém com menos de 30 anos consiga reconhecê-la. É claro que Jackie, que estreia nos cinemas esta semana, não pretende atingir grandes públicos. É um filme para poucos, mas que tem uma atração especial: foi um dos últimos filmes de John Hurt, falecido na semana passada e que aqui faz o padre com quem Jackie conversa muito.
Tudo começa quando Jackie, após o atentado que matou o marido, o presidente John Kennedy em 1963, está sozinha em uma mansão e recebe um jornalista (inspirado no repórter da Life, Theodore J. White) para uma entrevista. Ela relembra momentos quando o marido ainda era vivo, a vida na Casa Branca, inclusive um especial para a TV sobre o local, e é claro, o pré e pós assassinato do presidente. A intimidade com os filhos, a melhor amiga (Greta Gerwig) e também com o cunhado Robert Kennedy (que me parece uma relação beeeem próxima) também ganha espaço na história. Logo demonstra que a imagem frágil que ela passava para todos estava bem longe da realidade.
O diretor Pablo Larrain disse que logo quando foi convidado para assumir o projeto, só aceitaria se Natalie Portman fosse Jackie. O filme é todo construído em cima dela, sua presença é sentida em praticamente todas as cenas, mesmo aquelas em que ela não está presente. E como ótima atriz que é, entrou fundo na personagem. Mas a minha sensação é que ela fez Jackie tão intensa que o público sai do cinema com uma sensação desconfortável. Não sei se a voz de Jackie era realmente daquele jeito, mas a mim acabou cansando. Ela, que era a grande favorita ao Oscar do ano, vem perdendo espaço para Emma Stone (La La Land), que levou o prêmio do sindicato no último domingo.
O filme concorre a três Oscars, atriz, trilha sonora (“presente demais” em minha opinião) e figurino, exatamente as mesmas categorias do BAFTA. No Independent Spirit, ele pode levar filme, atriz, montagem e diretor.
Já vi vários filmes que tinham Jackie Kennedy como personagem. Esse é obviamente o mais “artístico” deles. É bonito de ver, com um figurino fantástico ( o final é ótimo), tem um bom roteiro, mas cansa um pouco. Então sua reação ao filme vai depender se você está no clima ou não para tanta intensidade.