Folhas de Outono é um desses filmes que fiquei triste por ter perdido a sessão para a imprensa. Ele é o representante da Finlândia para o Oscar de filme estrangeiro. Também a história de amor inesperada me parece bem interessante. O filme ainda está em cartaz nos cinemas, mas na correria de final de ano, fica difícil assistir na telona. Vou ter que esperar chegar no streaming. Mas, meu amigo José Augusto Paulo viu o filme lá na Europa, e descreve aqui o que achou.
Folhas de Outono
Premiado pelo júri de Cannes, este filme me chamou a atenção especialmente por ter sido classificado como uma comédia. Eu diria que o filme é bem, mas bem finlandês. Para quem não teve contato com eles, talvez pareça estranho, muito parado, ou sem muito diálogo. Quem os conhece sabe que o filme os retratou bem.
Ansa (Alma Pöysti ) trabalha em um supermercado, de onde por vezes leva para casa artigos que estão com a data de validade prestes a vencer. Vive em um apartamento minúsculo e escuta o rádio aonde as notícias são, quase sempre, sobre a guerra na Ucrânia (algo muito importante para os finlandeses já que são vizinhos da Rússia). Holappa (Jussi Vatanen ) trabalha em uma metalúrgica e vive no alojamentos de empregados. Pouco sai, mas bebe muito, por vezes durante o trabalho. Os dois se encontram por acaso, assistem a um filme num cinema, e pretendem se reencontrar. Só que ele perde o número do telefone dela. Uma parte do filme mostra os encontros e desencontros deles. Outra parte se centra na solidão dela e no alcoolismo dele.
A análise
Como podem ver não é uma história super original ou que pareça inspiradora. Entretanto, o filme é bem feito, a atuação mostra bem a vida sem muita esperança que levam até que o sentimento que nutrem um pelo outro seja uma esperança de futuro. Confesso que só o consideraria comédia pelos 25 minutos finais do filme aonde os diálogos nos fazem rir.
A produção deve ter sido barata. Os atores parecem sempre estar com a mesma roupa ( o que reflete o pouco dinheiro que tem ). As filmagens foram feitas em ruas sem maiores atrações. Me dizem que Helsinque e Turku são cidades bonitas, mas não há como identificar onde foram filmadas as cenas externas. De qualquer forma, estas chamam pouca atenção. O foco mesmo é nos personagens.
A trilha sonora até é interessante. Em uma cena bonita, toca a famosa Fallen Leaves enquanto mostram reais folhas de outono. Já algumas canções, só os finlandeses conhecem. Notem que praticamente ninguém ri no filme e também que as expressões faciais mudam pouco. Não é falha de direção ou da atuação. Grande parte dos finlandeses é assim. Os diálogos por vezes são duros, mas isso vem da vida que os personagens levam, mais do que uma característica cultural. No final, o filme me fez lembrar uma garrafa da vodka Finlândia. É transparente, mas o vidro parece rachado como pedaços de gelo: pode-se ver através dele, mas a sensação é de frio constante.