Todo o Dinheiro do Mundo com certeza será sempre lembrado por ser o filme em que “apagaram’ Kevin Spacey. Há um mês de seu lançamento, em dezembro último, o diretor Ridley Scott resolveu apagar todas as imagens de Kevin Spacey do filme, após acusações de assédio sexual. Em um curtíssimo período de tempo, ele contratou Christopher Plummer para substituí-lo, e ainda refez todas as mais de 20 cenas onde o personagem J. Paul Getty aparecia. Com isso, Todo o Dinheiro do Mundo teve uma visibilidade inesperada, só que mesmo assim, não foi suficiente para fazer dele um sucesso. Não conseguiu apoio nem da crítica nem dos público americanos. Agora, ele chega aos cinemas por aqui. Não é ruim…mas também não é um grande filme.
A história é verdadeira e conta um famoso caso que aconteceu nos anos 70. J. Paul Getty era o homem mais rico do mundo, mas tinha um temperamento difícil, especialmente com os membros de sua família. Quando seu neto preferido, Paul, é sequestrado na Itália, começa uma grande luta da mãe do rapaz para convencer o avô a pagar o resgate milionário. Enquanto isso, a situação de Paul vai ficando cada vez pior no cativeiro.
Talvez o problema do filme é que ele pretende ser um suspense e, com exceção da sequência de perseguição quase no final, não é. Em momento algum, mesmo que você nunca tenha ouvido sobre essa história e sobre a orelha, Paul parece efetivamente correr perigo. Assim, todos os momentos em que o filme deixa a mesa de negociações entre a mãe de Paul, Gail (Michelle Williams, talvez um pouco jovem demais para o papel), e o avô, para seguir o que acontece no cativeiro, o ritmo cai. Mesmo com a interessante participação de Romain Duris, como o sequestrador “bonzinho”, Cinquanta. Uma outra curiosidade entre os bandidos é a participação de Marco Leonardi, como o chefão. Para quem não se lembra, ele foi o jovem Totó em Cinema Paradiso.
Provavelmente a gente nunca vai saber como teria sido a interpretação de Kevin Spacey como Getty, mas a de Christopher Plummer, numa idade mais aproximada à do verdadeiro, é um assombro. Tanto que é a melhor coisa do filme, mesmo tendo sido adicionado aos 45 minutos do segundo tempo. Você fica querendo ver mais cenas com ele. Há uma mais perto do final do filme, em que ele e Gail estão novamente em negociação em uma mesma de reuniões cercados de advogados. O olhar de triunfo de Getty/Plummer, ao perceber que mais uma vez conseguiu o que desejava, é um momento inesquecível.
Por mais que tenha sido idealizado para ser mostrado como um quase vilão, um homem insensível, mais preocupados com quadros do que com a família, Christopher Plummer o transforma num solitário com várias nuances. Ele recebeu a única indicação do filme ao Oscar, se tornando assim o mais velho indicado ao prêmio de coadjuvante da história, com 88 anos. Mais do que merecido!
O filme teve ainda mais uma controvérsia, quando várias publicações mostraram que Mark Wahlberg (que parece quesempre que faz o mesmo papel) havia ganhado muito mais dinheiro para as refilmagens do que Michelle Williams. Mais uma bandeira foi levantada, dessa vez sobre as diferenças entre salários de atores e atrizes. Por mais que isso seja um problema que existe, não foi o caso aqui. Simplesmente uma negociação diferente, em que Michelle recebeu somente o mínimo do Sindicato, por sua opção. De qualquer maneira, depois de virar motivo de crítica e piada no Critics Choice Awards, Mark Wahlberg optou por doar seu cachê à organização Time ‘s Up, em nome de Michelle Williams. Mais uma confusão de bastidores nessa história já tão complicada.