Normalmente, eu não costumo assistir filmes com cachorros – só as comédias, claro. Isso porque qualquer possibilidade de uma história que tenha sofrimento dos animaizinhos já acaba comigo. Então, até hoje ainda não tive coragem de ver Marley e Eu e nem aquele filme com Richard Gere, Sempre ao seu Lado. Quase morri de chorar com Quatro Vidas de um Cachorro. Mas, um amigo insistiu que eu teria que que ver White Dog, filme húngaro que ganhou a Mostra Un Certain Regard no Festival de Cannes, em 2014. Até me emprestou o DVD, então não tive saída. Sim, o filme é ótimo, mas que sofrimento…
Tudo começa quando a mãe da pré-adolescente Lili anuncia que vai viajar por três meses a trabalho. Isso significa que a menina será obrigada a morar com o pai, com quem não tem a menor afinidade. Para piorar a situação, ele a força a abrir mão de seu cachorro querido, Hagen, já que uma vizinha mal-humorada faz uma denúncia contra ele. Abandonado nas ruas, o doce Hagen vai ter que sobreviver sozinho, e pior ainda, acabará caindo nas mãos de pessoas que organizam brigas de cachorro.
A cenas de todo o sofrimento e o treinamento cruel e insano a que Hagen é submetido para se tornar um cão de briga foi o suficiente para me deixar com um nó na garganta. Isso sem contar a cena do abandono, e o sofrimento da menina que, mesmo sem conseguir fazer muito, ainda vai atrás dele, mas tudo acaba numa série de desencontros. Ou seja, são dois solitários, incompreendidos pelo mundo à sua volta, cheio de gente má, pronta para acabar com tudo que é puro e doce por dinheiro, ganância, ou simples maldade. Um reflexo do que vemos todos os dias por aí.
Durante todo o tempo, Hagen mostra ser um cão extremamente inteligente – como o bom vira-lata que é – e, por consequência, passa a liderar uma matilha de cães, saindo em busca de vingança contra todos os que o maltrataram. É claro que é fácil fazer paralelos com os filmes da franquia Planeta dos Macacos. Assim como o doce macaco Caesar, depois do sofrimento, Hagen também será o líder de um levante contra aqueles que o oprimem.
Se você não é um apaixonado por cães como eu, é provável que consiga manter o distanciamento necessário para analisar friamente essa história. E, se for, com certeza sentirá o mesmo desespero que eu tive ao ver cada cena em que Hagen era maltratado. E o pior é que ao final, aparentemente tranquilo, fica a sensação de um tristeza com tudo isso, e com o que certamente virá depois…