Confesso que demorei para ver Roma, que concorre em 10 categorias no Oscar, inclusive melhor filme. Talvez pela facilidade de estar disponível na Netflix. Alguns amigos jornalistas me diziam que era um filme para ver no cinema. Que eu perderia muito na tela pequena. Acabei deixando passar a oportunidade. E no final, até achei positivo. Afinal, iria ver da mesma maneira que 99 % das pessoas, na tela meu laptop. Devo dizer que não me impressionou.
A História
É claro que é um belo filme. A fotografia preto e branco, que eu adoro, a cenografia que remete aos anos 70, são de primeira categoria. O fato de que a história é baseada em lembranças da infância do diretor Alfonso Cuarón, também tem seu charme. Aliás, para quem não sabe, o filme conta a história de uma empregada de uma família de classe média no México dos anos 70. Ceci (Yalitza Aparício) faz praticamente parte da família, que está vivendo um momento de mudança. O filme inclusive é dedicado a Libo, a Ceci da vida real de Cuarón.
https://www.youtube.com/watch?v=ICR6YvcyyJc
O filme já levou o Leão de Ouro de Veneza, o Globo de Ouro, o Critic’s Choice. Parece que será aquele que vai fazer as pazes entre Hollywood e a Netflix. Já era tempo, tipo de briga sem sentido. Os streamings (não só a Netflix) abriram um novo mercado imenso para os profissionais da indústria de entretenimento. E se Roma tivesse sido produzido para o cinema, provavelmente não teria tido metade do sucesso que teve (sem contar o retorno de investimento).
Isso é a parte positiva!
Mas…
É claro que, ao ver no laptop, não senti a dita imersão no filme sobre a qual muitos falam. Ao contrário, achei chato e arrastado. Algumas boas tomadas de cena no início (aquela em que Ceci vai apagando as luzes da casa) saltam aos olhos, mas, no geral, pouco acontece. Na meia hora final, a coisa melhora, com alguns momentos que levantam o filme. As sequências da loja de móveis, do hospital e da praia acabam fazendo com que você fique um pouco mais interessado com o que acontece com esses personagens.
Yalitza Aparicio funciona bem, mas sua atuação não vale uma indicação ao Oscar. Pensar que Nicole Kidman não conseguiu uma indicação por causa dela me assombra. O mesmo vale para Marina de Tavira, que faz a patroa de Ceci. Talvez tenha duas ou três cenas onde é possível ver a expressão de seu rosto. Ela não esteve em nenhuma lista anterior de melhores do ano. O Oscar surpreendeu aqui, e, sinceramente , não foi feliz.
É claro que o filme é um daqueles feito especialmente para ganhar prêmios. Para mim, fica bem longe de ser o melhor do ano, ou mesmo um dos oito melhores. E mesmo entre os filmes estrangeiros, Cafarnaum , do Líbano, me impressionou muito mais (ainda tenho que ver Guerra Fria, da Polônia, esta semana). Mas, é um daqueles filmes que viram uma catarse para as pessoas. Não me pegou. Entretanto, deve sair do Oscar com umas boas estatuetas, ou mesmo com a de melhor filme. De repente, me veio a sensação de ver a história de Moonlight se repetir. É…