O bicentenário da independência está chegando, e há várias programações especiais na TV. A TV Cultura vai exibir a minissérie Independências e o History Channel terá várias atrações (vou falar delas mais para frente). E no cinema, já estreia nessa quinta A Viagem de Pedro. Não fala diretamente sobre a independência, mas sim sobre o que aconteceu depois. Mostra a viagem que levou D. Pedro I de volta para Portugal para nunca mais voltar.
Dirigido por Laís Bodanzky, o filme mostra um olhar intimista sobre a vida de Dom Pedro I (Cauã Reymond), com atenção para um momento determinante de sua trajetória. Em 1831, o primeiro Imperador do Brasil volta à Europa sob condições adversas, no navio inglês Warspite. Diante de sua abdicação ao trono do Brasil, esse é um momento de profunda reflexão para D. Pedro I. Ele pondera os erros e acertos de sua administração. Com a saúde frágil, e politicamente fraco, ele relembra fatos e fantasmas desde o momento em que chegou no país com sua família.
O que achei do filme?
Quando era criança, a gente praticamente só estudava a história de D. Pedro até a proclamação da independência. O que aconteceu depois, não tinha grande relevância para a época. A Viagem de Pedro mostra um momento na política em que D. Pedro era impopular tanto no Brasil quanto em Portugal. A viagem é intimista, mostra os desafios de Pedro lidando com uma doença, com os fantasmas de erros do passado. E a eminência de uma guerra contra seu próprio irmão pelo trono português.
Com exceção da primeira e última sequência, tudo se passa dentro do barco. Isso por si só já garantiria uma sensação claustrofóbica e sombria. Pedro sente falta daqueles estrategistas que o ajudaram – e que ele perdeu – a falecida mulher Leopoldina, e José Bonifácio. Sente uma óbvia culpa. Tem delírios, está violento e deprimido. Há vários flashbacks. Momentos com Leopoldina, Domitila (a Marquesa de Santos) e com sua família no tempo em que era criança.
Erros e acertos
É um filme intimista, que desconstrói uma figura forte de nossa história. Entretanto, ao colocar uma figura carismática como Cauã Reymond no papel principal consegue uma reação dúbia por parte da audiência. Mesmo sendo violento, que maltrata as mulheres de sua vida, quem assiste acaba tendo pena do personagem. E torce para que ele se recupere e alcance seu objetivo. Há também uma tentativa de incluir histórias sobre culturas africanas, sexualidade feminina. Mas eles estão presentes em uma ou outra sequência, só que também não se desenvolvem.
Entretanto, A Viagem de Pedro não deixa de ser um filme envolvente e curioso. Quem gosta de história provavelmente vai curtir mais ainda. Algumas cenas foram inclusive feitas no palácio de Queluz, em Portugal. E afinal, é uma curiosidade finalmente ver uma parte da história que a gente não aprendeu na escola. E hoje (30) anunciaram que A Viagem de Pedro está entre os finalistas para ser o representante brasileiro na categoria do oscar de filme estrangeiro.
As entrevistas
Eu conversei tanto com Cauã Reymond como com a diretora Laís Bodanzky sobre o filme. Veja abaixo os vídeos das entrevistas – e aproveite para se inscrever no canal do Blog de Hollywood no YouTube.