Tom Hanks é aquele tipo de ator que transforma qualquer papel e qualquer filme em algo interessante. E ele faz parecer tudo tão natural, que em tempos recentes acaba sendo esquecido na Temporada de Premiações. Foi esse o caso com Sully, com Capitão Phillips, The Post, e provavelmente será o caso com Relatos do Mundo, que estreou nessa quarta na Netflix. Tom teve uma indicação para o Critics Choice, mas não conseguiu nem o Globo de Ouro, nem o SAG’s. Não creio que entrará na lista do Oscar. Espero estar errada.
Isso porque ele está primoroso como o Capitão Kidd em Relatos do Mundo. O filme se passa em 1870. O Capitão Kidd é um veterano de guerra. Ele viaja através do Texas oferecendo notícias do mundo para as pessoas num tempo em que as informações não eram acessíveis. Num determinado momento, ele encontra uma menina de 10 anos, Johanna. Ela foi raptada e criada pelos índios Kiowa. Johanna não conhece sua família e tem um comportamento hostil com as pessoas ao seu redor. Só que ela acaba criando um vínculo com Kidd, e os dois acabam enfrentando juntos os perigos que aparecem em seus caminhos.
A crítica
A história lembra um pouco Rastros de Ódio, um dos maiores filmes de faroeste já feitos. Mas, o desenvolvimento é bem diferente. Em Relatos do Mundo, o início é um tanto lento, o que pode fazer que alguns desistam de continuar a assistir. Mas, logo você acaba sendo conquistado pelo carisma – e carinho – desses dois personagens. A história tem um formato episódico, que pode ser dividida em cinco partes. O encontro, os vilões do deserto, os vilões da cidade, a tempestade e o encerramento. Cada um deles fortalece mais o vínculo do capitão e de Johanna.
O filme acaba sendo um faroeste em essência. Todos os ingredientes estão lá. O homem solitário e desiludido, a vítima que precisa de ajuda, os vilões, os perigos. E ainda a trilha sonora impecável (de James Newton Howard) e a maravilhosa fotografia (de Dariusz Wolski). O diretor é Paul Greengrass, que repete a dobradinha de sucesso com Tom Hanks, com quem já tinha feito Capitão Phillips. E, conhecendo o diretor, é claro que ele conseguiria encontrar maneiras de incluir discussões atuais como racismo e fake news na história. E ele o faz, com talento, e, principalmente, a serviço da narrativa.
A grande descoberta do filme, é a menina alemã, Helena Zengel. Ela realmente é um arraso. E está indicada em todas as principais premiações: Globo de Ouro, Critics Choice e SAG’s. É aposta certa para entrar no Oscar também. O filme tem alguma chance para estar entre os finalistas do Oscar. Seria merecido!