Na semana passada, tive a oportunidade de assistir aqui em São Paulo a estreia do musical Yentl em Concerto, onde a cantora e atriz Alessandra Maestrini (aquela de Pato Branco, lembra?), interpreta a história do filme e do conto famoso de Isaac Bashevis Singer, sozinha, somente acompanhada do pianista João Carlos Coutinho. Ela conta a história da jovem Yentl, sob seu ponto de vista. “Eu faço uma introdução contextualizando a história. Conto sua trajetória, exatamente como é, mas sob o meu ponto de vista. Assim, costuro o roteiro com emoção, humor, questionamento e o encantamento que senti ao entrar em contato com este conto”. E, é claro, também interpreta muito bem as canções em inglês. O espetáculo terá somente mais dois shows em São Paulo, nos dia 23 e 30, no Teatro Porto Seguro, no centro da cidade. Vale a pena.
Foi bom assisti-lo porque pude relembrar o texto e as músicas de Michel Legrand com letras brilhantes de Alan e Marilyn Bergman (ainda me lembro de cor). E simplesmente adoro o filme de 1983, que foi a estreia na direção de Barbra Streisand. Concordo plenamente com Steven Spielberg que disse uma vez que Yentl havia sido o filme de estreia mais impressionante que ele havia visto desde Cidadão Kane. Não, não é exagero! Barbra brigou durante muitos anos para conseguir levar essa história para o cinema. E ele quase foi cancelado depois dos problemas do estúdio com o fracasso monumental de Portal do Paraíso. Mas Barbra sempre foi persistente: produziu, dirigiu, participou do roteiro e fez o papel principal. E ainda interpretou as músicas com aquela voz inigualável!
Para quem não conhece, a história se passa no início do século 20 dentro de uma comunidade judaica. Yentl (Barbra) perde o pai, que lhe ensinava as sagradas escrituras, algo que era proibido às mulheres da época. Decidida a desafiar o destino que lhe condenava a permanecer na ignorância, traveste-se de homem e segue para uma universidade em Yeshiva. Lá se apaixona por Avigdor (um muito jovem e muito bonito Mandy Patinkin), seu colega de estudos, e tem então que descobrir até que ponto está disposta a abrir mão de sua identidade.
As músicas e especialmente as letras de Yentl são inigualáveis – ganhou o Oscar de trilha sonora. O filme foi um considerável sucesso de bilheteria para a época e Barbra venceu o Globo de Ouro de direção enquanto o filme também levou o de melhor comédia/musical. Infelizmente Barbra nem chegou a ser indicada ao Oscar na categoria (eram outros tempos). Mas duas das canções foram indicadas:
Papa can you hear me? é a mais famosa. No filme, Barbra, como Yentl, canta a música quase como uma prece, conversando com seu pai recém- falecido.
A outra é The way he makes me feel, quando Yentl começa a perceber que Avigdor a faz sentir de uma forma diferente.
Mas as minhas duas favortias não são essas. A minha preferida é No matter what happens, quando Yentl resolve contar toda a verdade a Avigdor.
https://www.youtube.com/watch?v=aufB9Zwqefc
E, é claro, o final, quando ela resolve seguir com sua vida para um mundo novo, um lugar onde ela não visse apenas “um pedaço do céu”. Veja que trabalho de direção, de posicionamento de câmera e, principalmente, que bela mensagem. Eu era bem novinha quando vi o filme, e depois quando ganhei o disco de presente, mas a mensagem de Yentl sobre a busca de “cada possibilidade docemente imaginada” sempre norteou o meu caminho.
Yentl nunca foi lançado em DVD no Brasil. Há exemplares importados à venda. O Telecine passou há algum tempo. Se tiver oportunidade, não deixe de assistir. É um belo filme muito à frente de seu tempo!
alfie
23 de maio de 2016 às 6:50 pm
Que lembrança maravilhosa.Que ótima escolha de cenas. Mas a sequência final é fantástica. Mandou bem, Eliane.