Não conhecia muito bem a história de Martin Luther King. Aliás, este foi o primeiro filme em que ele é mostrado como figura central. Isso porque aparentemente os vários herdeiros brigam bastante entre si, o que dificulta negociações. Mas para quem não sabe, ele foi um verdadeiro herói da luta pelos direitos iguais entre negros e brancos nos Estados Unidos. E o que é mais chocante é que tudo isso aconteceu há apenas 50 anos. O filme Selma, que está em cartaz nos cinemas, mostra uma das fases desta luta, a marcha entre as cidades de Selma e Montgomery, bem no coração da região mais racista do país.
Há muito tempo se falava em fazer um filme sobre o assunto mas ainda hoje parecia intocável. Daquele que os estúdios dizem que “não vai dar dinheiro”. Foi preciso que duas grandes forças do entretenimento, Oprah Winfrey e Brad Pitt (com sua produtora Plan B), se juntassem para que ele finalmente saísse do papel.
Ele demorou sete anos para ser feito. Inicialmente, Lee Daniels (O Mordomo da Casa Branca) iria dirigir e no elenco estavam Hugh Jackman (o xerife), Liam Neeson (o presidente), Robert De Niro (o governador) e David Oyelowo como Martin. Ele foi o único que ficou quando Lee abandonou o projeto e a diretora de documentários e de TV (inclusive um episódio de Scandal), Ava DuVernay, assumiu o filme.
O filme começa de forma bem forte mostrando a razão pela qual King (David Oyelowo) resolveu fazer a marcha de Selma para Montgomery. Ele lutava pelo direito de voto para todos da raça negra no sul do país, que já havia sido aprovado pelo presidente, mas que era dificultado pelo governo local e cidadãos racistas. A história aborda desde o relacionamento dos bastidores, com todas as suas idas e vindas em busca do maior poder, até a determinação de cidadãos comuns, que buscavam um mundo melhor e mais justo. O problema é que em alguns momentos o filme se perde, tornando-se um tanto cansativo.
Muito se falou na época em que as indicações do Oscar foram divulgadas, que a omissão dos nomes de Ava DuVernay entre os diretores e de Oyelowo entre os atores significava uma ausência de diversidade racial. Eu discordo. Independentemente da cor de sua pele, sinto muito mais falta de Clint Eastwood (Sniper Americano) e principalmente Damian Chazelle, de Whiplash: Em Busca da Perfeição, para mim o melhor filme entre todos estes que estão concorrendo ao prêmio. Assim como Jake Gyllenhaal me impressionou muito mais em O Abutre do que Oyelowo. E todos ficaram fora da lista.
Ou seja, creio que num ano de interpretações e filmes muito bons, realmente não creio que foi feita uma injustiça com Selma. Ele ainda conseguiu uma indicação para o prêmio para melhor filme e canção – a linda Glory, de Common (também ator) e John Legend, que provavelmente vai ganhar.
Mas é um filme para conhecer. Para conhecer uma luta, que absurdamente aconteceu há tão pouco tempo. Mesmo que muitos critiquem que alguns fatos históricos não tenham acontecido da maneira como é retratado no filme (especialmente a participação na história do presidente Lyndon Johnson) o filme tem cenas muito boas e chocantes. Destaco aqui primeira tentativa de começar a passeata, realmente impressionante. No final, Selma pode não ser inesquecível como cinema, mas que deve ser visto como o registro de um momento histórico.
Eliane Munhoz