O cinema tem um preconceito velado com filmes sobre futebol. Praticamente nenhum deles teve sucesso, seja entre os produzidos por aqui – Asa Branca, Heleno – ou os estrangeiros – Fuga para a Vitória, Penalidade Máxima ou o ótimo Duelo de Campeões, com Gerard Butler. E agora nesta semana chega aos cinemas Pelé: O Nascimento de uma Lenda, que pretende contar o início da vida de Pelé, desde menino quando morava em Bauru até a conquista da primeira Copa do Mundo pelo Brasil em 1958. O trailer abaixo, assim como a cópia que vi, está em inglês (afinal, o filme é uma produção norte-americana), mas segundo a distribuidora, a maior parte das salas terá cópias dubladas em português em exibição.
Há muita gente que idolatra Pelé, outros que o desprezam, mas o que posso dizer é que este filme, o primeiro de ficção sobre sua vida (há vários documentários disponíveis), é muito bem feito, com uma boa produção e algumas interpretações acima da média. Dirigido por Michael e Jeff Zimbalist, também responsáveis pelo roteiro, conta de maneira romanceada a infância pobre da família de Pelé, as brigas com os meninos ricos, a amizade com os garotos locais, até sua primeira chance no Santos Futebol Clube. Pelé é vivido por dois garotos, um aos dez anos de idade, Leonardo Lima Carvalho, e outro aos 16, Kevin De Paula. Ambos são corretos. Mas realmente o que mais me chamou a atenção foram os atores que fazem seus pais, Dondinho e Celeste. Seu Jorge demonstra mais uma vez aqui que é provavelmente o melhor ator brasileiro no momento (não, não estou exagerando). Repare em seus olhares que dizem tudo em cada cena, em cada momento. Já a atriz Mariana Nunes não havia me marcado em outros papéis, como por exemplo em Trinta, um filme que gosto muito e foi um grande fracasso. Como Celeste, a angústia está sempre lá. Gostei muito.
Na segunda fase de Pelé, quando começa a jogar como profissional, surgem as participações especiais de figuras conhecidas como grandes nomes do passado. Vincent D’Onofrio é o técnico Feola, Colm Meaney aparece como o técnico da seleção sueca, Diego Boneta é o jogador Mazzola, que inicialmente é o antagonista, mas depois se torna amigo de Pelé. Entre os brasileiros, Felipe Simas é Garrincha e Fernando Caruso é Zito. Também não se pode esquecer a aparição relâmpago do produtor Rodrigo Santoro, como um radialista.
É obvio que numa produção como essa, com muitos americanos envolvidos – um dos produtores é Brian Grazer, que ganhou o Oscar com Uma Mente Brilhante – há algumas pequenas bobagens de produção. Por exemplo, não havia transmissão ao vivo de jogos internacionais no Brasil em 1958 (a primeira copa a ser mostrada em tempo real, já em cores, foi a de 1970) , as estradas de Santos na época não eram cheias de barracos, a Suécia acabou sendo feita no Rio de Janeiro mesmo.
Mas devo dizer que no final, com a conquista do título, com a profundidade de Seu Jorge ao olhar para aquele momento, o filme me emocionou. Então, minha sugestão é para deixar de lado o preconceito com filmes de futebol, qualquer sentimento negativo que você tenha com relação a Pelé, e embarque nessa história. É um belo drama com final feliz.