Há dois anos, Florian Zeller dirigiu a versão para o cinema de uma de suas peças, Meu Pai. Foi elogiada por todos, e inclusive deu um segundo Oscar (este inesperado) para Anthony Hopkins. Com isso, todo mundo esperava com grande expectativa a versão de outra de suas peças, Um Filho. Só que a crítica americana não gostou, e o filme ficou praticamente esquecido na Temporada de Premiações – só uma indicação para Hugh Jackman no Globo de Ouro. É uma pena, pois o filme é muito bom, e a atuação de Hugh Jackman é vezes e vezes superior às de Colin Farrell e Paul Mescal, por exemplo. Um Filho estreia nessa quinta nos cinemas – e vale conhecer.
Peter (Hugh Jackman) é bem-sucedido profissionalmente, e também uma linda companheira e um filho bebê. Só que essa vida perfeita de comercial de margarina é interrompida quando a ex-mulher Kate (Laura Dern) baté à sua porta. Ela chega com notícia que o filho adolescente de ambos está distante, e faltando às aulas. Nicholas (Zen McGrath) pede então para ir morar com o pai. Embora Peter mal conheça Nicholas, ele decide se dar uma chance e concorda em hospedá-lo. O próprio Peter tem uma relação terrível com o pai, que era cruel com ele na sua infância/adolescência. Só que Peter não tem ideia da situação que o espera.
O que achei?
Ok, Um Filho não tem a estrutura inovadora de roteiro de Meu Pai (vencedor do Oscar). Mas trata-se de um drama poderoso. Mostra principalmente aquela situação em que você não quer ver aquilo que está tão evidente para quem está do lado de fora. Peter quer ter a família perfeita e uma vida perfeita. E não consegue conceber que seu filho esteja passando pelo pesadelo da depressão. E com isso, Floria Zeller mostra um drama sólido e envolvente. A audiência tem vontade de gritar “não faça isso”, mas Peter está muito envolvido para perceber o tamanho do problema até por sua própria história.
Há uma sequência sensacional de Hugh Jackman e Anthony Hopkins como pai e filho, que é aquela em que percebemos a razão das escolhas de Peter. O filme , é claro, é uma tragédia anunciada – e tem a reviravolta final, que se tornou uma marca registrada de Zeller. Talvez ela nem fosse necessária, mas acentua ainda mais o drama de Peter. E esse personagem dá a chance para Hugh Jackman brilhar. Ele é sempre ótimo, e é possível ver cada uma de suas leis e crenças caindo por terra com as atitudes do filho. Desnecessário dizer qualquer coisa por Anthony Hopkins. Você fica com seu rosto e suas palavras na mente muito tempo depois que o filme termina. E claro, o resto do elenco é ótimo: Vanessa Kirby, Laura Dern e o jovem Zen McGrath. Excelente drama, injustamente esquecido na Temporada de Premiações.