Já vou avisando que provavelmente essa crítica vai ser diferente de todas as outras que você vai ler sobre Coringa: Delírio a Dois. Essa é minha percepção porque o filme, que estreia nessa quinta (com pré-estreias pagas já nessa quarta), tem uma proposta totalmente diferente do primeiro, que foi um enorme sucesso de bilheteria. Para começar a conversa é um musical, então se você não gosta do gênero, fique longe. Como eu adoro, achei o filme simplesmente sensacional. Um primor de direção, elenco, fotografia e, claro, trilha sonora.
Primeiro, a história. Arthur (Joaquin Phoenix) está preso em Arkham por causa dos acontecimentos do primeiro filme. Está aguardando seu julgamento e sua advogada (Catherine Keener) está construindo sua defesa com base em que Arthur e Coringa são duas personalidades, portanto ele deverá ir para um hospital psiquiátrico e não ser condenado à morte. Em Arkham, ele acaba conhecendo Harleen “Lee” Quinzel (Lady Gaga). A curiosidade mútua acaba se transformando em paixão e obsessão e os dois desenvolvem um relacionamento romântico e doentio. Lee e Arthur embarcam em uma desventura alucinada, fervorosa e musical pelo submundo de Gotham City. Enquanto isso, o julgamento público do Coringa se desenrola, impactando toda a cidade e suas próprias mentes conturbadas.
O que achei?
Quando saí hoje da sessão para a imprensa, havia uma sensação de revolta entre a maioria dos jornalistas. Creio que nunca vi nada igual, rsrs. Uma jovem que não conheço deixava isso bem claro aos gritos. Eu confesso que olhava incrédula. Isso porque o filme é muito bom. Entretanto, quem esperava algo na mesma linha do primeiro filme, realmente se surpreendeu. Especialmente quem tem preconceito com musicais. A trilha sonora é sensacional, com músicas conhecidas dos anos 40, 50, 60 e 70. Talvez seja esperar muito que uma geração mais nova e/ou sem conhecimento do gênero aprecie e entenda todas as referências.
E as referências não se restringem às músicas. Por exemplo, há uma referência clara à fotografia de Os Guarda-Chuvas do Amor, que é lindíssima . E ainda há outras, incluindo Fred Astaire, Frank Sinatra e até os desenhos típicos dos anos 40, numa audaciosa e sensacional abertura. A parte final, quando tudo se passa durante o julgamento de Arthur, entretanto, não é tão eficiente, sendo um tanto repetitiva para mostrar as diferenças de Arthur e do Coringa. Mas isso não atrapalhou a sensação de ter presenciado um filme diferente de tudo, e muito bom, na minha opinião.
E claro, Joaquin Phoenix, está superlativo. Até melhor do que no primeiro. Isso porque quando Delírio a Dois começa, e Arthur está na prisão, ele está destruído – magérrimo e encovado. Quando ele se transforma em Coringa, seja nos números musicais, ou perto do final, a linguagem corporal é totalmente outra. Simplesmente sensacional. Muito se falou que Lady Gaga aparece pouco como Arlequina. Eu provavelmente gostaria de tê-la todo o tempo na tela já que ela é uma atriz tão sensacional. Só que mesmo assim funciona perfeitamente como está. A química entre Gaga e Joaquin é ótima, e os números musicais dos dois são uma delícia de ver.
E ainda…
Mas, eu queria destacar um outro personagem, que era uma figura importante no primeiro filme (não vou dizer quem são para não estragar a surpresa). Leigh Gill era Gary, o companheiro de trabalho de Arthur que é poupado por ele. Aqui na sequência, ele está de volta na cena do julgamento, e tem um dos momentos mais emocionantes do filme. Palmas pra ele!