Quando era menina, ouvia falar muito de feministas como Gloria Steinem e Betty Friedan. Essa última ficou mais famosa com a famosa frase onde mandou as mulheres queimarem os sutiãs. Lembro-me que a percepção que tinha então era de uma gente louca. É claro que depois de adulta a coisa mudou. Entendi perfeitamente aquilo pelo qual aquelas mulheres lutavam. Minha percepção era que faltava, entretanto, um pouco de malícia, e principalmente de habilidade política. Isso fica óbvio nos dois primeiros episódios da série Mrs. America, que terá uma pré-estreia dos dois primeiros episódios nesse sábado, 19, no Fox Premium, às 22h15.
A série se passa na década de 1970. Phyllis Schlafly (Cate Blanchett) é uma advogada e ativista conservadora, conhecida nacionalmente por suas ideias anti-feministas. Phylis é completamente contrária ao movimento para a ratificação da Emenda dos Direitos Iguais, ou seja, a garantia constitucional de direitos iguais para as mulheres em relação aos homens. Os embates entre o grupo liderado por ela e as oponentes feministas são responsáveis por mudar o cenário político-cultural dos Estados Unidos completamente. E isso se estende até os dias de hoje.
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A crítica
É difícil falar de Mrs. America somente vendo os dois primeiros episódios. O primeiro apresenta o personagem principal da série, Phyllis Schlafly . É um prato cheio para Cate Blanchett. Uma mulher que vai contra tudo aquilo que as mulheres tiverem que lutar por tanto tempo. Ela é louca por poder, mas, ao mesmo tempo, advoga por uma vida de dona de casa, que ela mesma claramente despreza. Mas esse é o caminho para que ela tenha a influência que tanto deseja. Com isso, como tantos políticos fazem, distorce verdades, aumenta, mente e engana.
A atuação de Phyllis continua presente mesmo no segundo episódio, intitulado Gloria. Ele apresenta um pouco mais sobre o desejo de poder do outro lado. Mulheres que lutam pela mudança, mas que querem o holofote para si mesmas. Outras que querem ser reconhecidas como as salvadoras da pátria. Gloria Steinem (Rose Byrne), uma mulher bonita, que se torna o rosto dessa fase de mudança, tem várias semelhanças com Phyllis, mesmo sendo de um outro extremo na forma de pensar. Assim como Phyllis, Gloria também é subestimada.
O elenco
Na verdade, a hipocrisia reina de ambos os lados. O que todas querem é o poder, o reconhecimento dos homens e de suas seguidoras. Nada muito diferente do que acontece hoje em dia, 50 anos depois. Por isso mesmo, é fácil identificar situações com problemas atuais. É bem provável que isso tenha sido o que atraiu um elenco maravilhoso de atrizes, que pelo que vi, tem seus melhores momentos na série. Desnecessário falar sobre Cate, Uzo Aduba e Margo Martindale. As três estão indicadas para o Emmy, que acontece no próximo domingo. Elas são sempre superlativas. Mas é preciso também falar de Jeanne Tripplehorn, Tracey Ullman, Sarah Paulson, Melanie Lynskey e, principalmente Rose Byrne como Gloria. Qualquer um que já tenha visto algum documentário ou entrevista com Gloria Steinem vai ficar chocado como ela incorpora a personagem.
Mrs. America concorre a um total de 10 Emmys, inclusive melhor minissérie. Pelo que vi, é forte candidata. Após essa pré-estreia do dia 19 pré- Emmy, a estreia oficial da série será a partir de terça, 29/09, às 23h00 no FOX Premium 1 – com 2 episódios por semana. Vale muito a pena ver.