Inacreditável, da Netflix, estava em minha lista de séries para ver há um bom tempo. Mas sempre entrava alguma coisa na frente. Só que depois de todas as indicações do Globo de Ouro – Série Limitada, Atriz ( Merrit Wever e Kaytlin Dever) e Atriz Coadjuvante (Toni Colette) – não tinha mais como adiar. E que arrependimento de não ter visto antes. Os oito episódios foram vistos em “duas sentadas”. Juntamente com Chernobyl, essa foi a outra série que me deixou admirada e impressionada com a qualidade de texto, direção e elenco.
Ela é baseada em uma história verdadeira, que foi escrita em uma matéria com o título de Uma Inacreditável História de Estupro, escrita T Christian Miller e Ken Armstrong. O primeiro dos oito episódios já começa com a história de uma jovem de 18 anos, Marie, (Kaitlyn Dever) que contou à polícia ter sido estuprada dentro de seu próprio apartamento. Submetida a vários interrogatórios, ela acabou voltando atrás em sua versão, o que lhe causou vários problemas. Essa história, e ainda os flashes daquela noite, ocupam todo o episódio. Mas no segundo, conhecemos duas detetives, Grace e Karen (Toni Collette e Merritt Wever), que estão investigando casos similares. A investigação das duas e o destino de Marie vão acabar se cruzando durante a investigação de um estuprador em série.
A série segue então dois caminhos paralelos. O primeiro, o que acontece com Marie, e tudo pelo que ela tem de passar por causa de sua declaração. No segundo, o público acompanha as investigações das duas detetives com atenção. É claro que , em princípio, Inacreditável é uma série sobre uma investigação policial, sobre como descobrir o culpado. Mas há outro ponto central: o tratamento que as vítimas de estupro recebem. Como vítimas como Marie, quando não são ouvidas da maneira correta, são prejudicadas de maneira irreversível. É chocante como todos são insensíveis, mesmo sem perceber. E em outro caso, o de Amber (Danielle Macdonald , de Dumplin’), a reação respeitosa da policial Karen não só lhe inspira confiança, como também ajuda a evoluir com a investigação.
Na série não há cenas chocantes de estupro. Tudo é feito através de flashes muito rápidos. Em compensação, os detalhes da investigação fazem com que você se sinta parte da equipe. Essas mulheres, e as pessoas que trabalham em sua equipe são eficientes, preocupadas com o resultado de seu trabalho, e com as vítimas.
E aí vem o destaque para o trabalho de Merrit Wever, que já esteve em Godless e foi a Agnes de The Walking Dead. Sua voz doce, mas forte, mostra o quanto o mundo seria perfeito se todas as vítimas tivessem alguém tão dedicada para defendê-las. Toni Colette também está ótima. Sua Grace é desbocada e apaixonada pelo que é certo. A química e a forma como as duas trabalham juntas dá gosto de ver. Mas, além do trabalho da jovem Kaitlyn Dever como Marie, também há outro destaque. A participação de Brooke Smith (lembra dela como a Dra. Erica de Grey’s Anatomy?) é pequena, mas é vital para Marie, e também para o desenvolvimento da história.
Li algumas críticas dizendo que Inacreditável é a série mais feminista que se tem notícia. Discordo. Sim , ela destaca o trabalho dessas mulheres incríveis, que desafiaram tudo e todos para conseguir entregar o seu trabalho. Mas, mais importante que isso, é uma série que fala da importância do respeito com o outro, independente de quem são, ou o que parecem. Em tempos como os de hoje, é uma lição indispensável.