A maioria das pessoas conhece Vinicius de Moraes como compositor, grande admirador da beleza feminina, um apaixonado. Era também um escritor elogiado, conhecido com o Poetinha. Por isso, para mim foi uma surpresa ver que algumas de suas obras menos conhecidas viraram fonte de uma série de terror. Noturnos, que estreia hoje (21), às 22 horas no Canal Brasil, e em seguida fará parte do acervo da Globoplay, segue por esse caminho.
A série brasileira tem seis episódios. Atores de uma companhia de teatro estão ensaiando uma peça quando cai uma chuva torrencial que os impede de sair do teatro. Eles decidem então passar o tempo contando histórias de terror. Cada episódio, com exceção do último, é uma história diferente escolhida por um deles. Paralelamente, conflitos passados e presentes da equipe também se manifestam.
Os episódios têm histórias bem diferentes. Uma é sobre a avó de um dos atores cujo marido retornou depois de morto. Outra, que tem um pé na ficção científica, lembra aqueles filmes de baixo orçamento da década de 50. É a mais divertida, sobre escravos que se rebelam contra seus mestres. Há também o mais nojento deles, que se passa em uma construção de um prédio num mangue. E o melhor é o da praia, onde um homem conhece uma mulher misteriosa, que está sempre de óculos escuros.
Recitando a história
Tenho uma certa birra com uma linha de atuação que existe nas produções brasileiras. É aquela coisa teatral, onde boa parte dos atores parece estar recitando suas falas para o público. Fica sempre aquela sensação que nada é natural. Esse é o caso da maioria do elenco de Noturnos. Caramba, cinema e televisão são diferentes de teatro! É só ver a diferença quando entram em cena atores como Marjorie Estiano e Gilda Nomacce (Onde quer que você esteja). Você não consegue tirar os olhos das duas. Além do talento, não ficam recitando suas falas. Há alma na interpretação.
Isso já me deixou impaciente com relação à produção. Mas, com exceção do episódio dos escravos e da praia, tudo é muito chato, muito cheio de bla-bla-bla. As partes do teatro são as mais difíceis de aguentar. Parece que estava assistindo uma peça de escola, com todos os tiques, marcações e trejeitos básicos dos personagens. A pior de todos é a diretora da peça, vivida por Thaia Perez, com seu cigarro e copo de uísque na mão.
É uma pena, porque a ideia de Noturnos era boa! Pena que foi tão mal desenvolvida. Fica a dívida para uma homenagem melhor para Vinicius de Morais!