Nos últimos tempos, com tanta coisa ruim acontecendo pelo mundo, tenho dado prioridade a séries que estejam bem distantes da vida real. Dragões, zumbis, Lúcifer, etc. Mas a premissa de Chernobyl, cujo último episódio vai ao ar na HBO nessa sexta feira (7) me chamou a atenção. Tenho poucas lembranças de quando a tragédia real de Chernobyl aconteceu nos anos 80. Para quem não sabe, o reator de uma usina nuclear explodiu matando diretamente 30 pessoas, fazendo com que várias abandonassem suas casas, e milhões fossem infectadas na então União Soviética.
Estava viajando quando o primeiro dos cinco episódios da série foi exibido. Então vi os três primeiros pelo HBOGo. Fiquei literalmente “no chão” com vários dos momentos da história. Um misto de incompetência governamental, com o medo e desconhecimento da maioria dos envolvidos. Tudo isso contado com uma direção de arte estupenda e grandes interpretações. Vale muito conhecer – sugiro que o faça.
https://www.youtube.com/watch?v=fFfZppLFops
Muita gente pode se sentir incomodado com as cenas desse trailer. Pode até desistir de assistir a série. Mas ela mostra que o impensável pode, sim, acontecer. E vai fundo, não se esquivando de mostrar pessoas nas mais diversas situações de exposição à essa força que infecta a atmosfera e invade o corpo sem que se perceba, para ir aos poucos destruindo tudo. A história da série começa no dia da explosão. E leva quem está assistindo pelos corredores da usina como se fosse um filme de terror. Só que você sabe que não é um monstro ou um fantasma que poderá aparecer a qualquer momento. É algo muito mais terrível.
A história
Depois, durante os episódios, acompanhamos a luta de Valery Legasov (Jared Harris), um químico que realmente existiu, para provar ao bando de políticos nojentos do partido comunista que a coisa era desastrosa. Ao seu lado, está Borys Shcherbyna (Stellan Skarsgard), membro do partido, que é designado a acompanhar Legasov a Chernobyl para descobrir o que realmente aconteceu. Ele também é uma figura real. Do três personagens principais, somente Ulyana Khomyuk (Emily Watson), uma física que tenta ajudar a provar também o que está por vir, não existiu de verdade. Os roteiristas argumentam que ela é a personificação de uma séries de cientistas que estavam presentes naquele momento da historia.
Grandes personagens
Há outras figuras importantes. A esposa do bombeiro que tentou apagar o primeiro incêndio (Jessie Buckley), o chefe dos mineradores (Alex Ferns), que sabe que está levando seus homens para morte certa, e os vários membros do partido, entre eles Mikhail Gorbachev. Mas , para mim, o mais marcante foi o membro do partido que estava lá no primeiro momento pós-explosão, Zharkov, vivido pelo ator veterano, Donald Sumpter . Os fãs de Game Of Thrones vão lembrar dele como o Maester Luwin, da série. Até agora, a cena em que ele diz ao chefes da usina que esses desastres não acontecem na União Soviética, e que ele tem que cortar as linhas telefônicas, além de impedir que todos saiam da cidade, é uma das mais aterradoras que já vi na vida. É a maldade personificada.
Os pequenos heróis
Há ainda outras cenas marcantes, especialmente com as mortes dos animais. Numa série que logo na primeira sequência já é mostrado um suicídio, não seria de se esperar outra coisa. Mas, principalmente nos mostra a raiz de tudo, como governantes não estão nem aí com o povo. Seja em qualquer lugar, durante qualquer desastre, a incompetência atroz se revela. E o mundo continua a viver de pequenos heróis como o chefe dos mineradores de Chernobyl. A série apresenta esse cenário sem reservas. E isso é um soco na boca do estômago. Por isso mesmo, indispensável.
Fotos de divulgação