Jordan Peele criou um gênero em filmes e séries, que mistura denúncias de racismo com sobrenatural. Ele começou com Nós, e depois deu prosseguimento com a série The Twilight Zone ( duas temporadas disponíveis na Amazon). E com isso, abriu caminho para outras produções do gênero. Recentemente, a HBO também entrou nessa seara com o excelente Lovecraft Country (vale conhecer). A última a chegar para essa linha é Them, que está disponível na Amazon Prime.
A série se passa nos anos 60. Aborda um fenômeno social, conhecido como A Grande Migração. Seis milhões de famílias negras saíram de comunidades rurais nos Estados Unidos e foram para grandes centros urbanos. É o caso da família Emory. Eles se mudam para uma casa de sonho numa comunidade só de brancos na Califórnia depois de ter sofrido uma grande tragédia. Só que começam a sofrer terríveis ataques racistas. E como se isso não bastasse, ainda há uma força maligna sobrenatural na casa que aterroriza a todos.
A crítica
Essa é a primeira temporada de uma série de antologia, que pretende explorar o terror nos Estados Unidos. É difícil dizer o que faz mais essa família sofrer. O racismo da comunidade branca , que se recusa a tê-los por perto. Ou as coisas misteriosas que acontecem com cada um da família- pai, mãe e duas filhas. Só que tanto terror sobrenatural quanto o social e real são difíceis de engolir. O roteiro infringe cada uma das regras de poupar a audiência de cenas difíceis de olhar. A série tem estupro, assassinatos de bebês e animais, violência crua e absurda. Além do próprio racismo, levado às últimas consequências. Confesso que tive que ver a série aos poucos. Não dava para maratonar e ver tudo de uma vez.
Na verdade, durante a primeira metade, boa parte do terror é social, com o racismo extremo. A partir da segunda, começamos a entender um pouco mais da parte sobrenatural. É como se a produção se lembrasse no meio do caminho que tinham também que desenvolver o terror de assombração. E dar uma certa explicação sobre tudo que acontece por ali. O problema só é que depois de todo o choque das coisas que os vizinhos fazem com a família, uns fantasmas acabam nem aterrorizando a gente. As alucinações da família se tornam redundantes e cansativas.
Para destacar…
É preciso destacar entretanto o design de produção, fotografia, e uma trilha sonora fenomenal. Há momentos em que parece que o estilo simpático da decoração da época é uma forma de contrapor toda a violência da história. E também é preciso falar sobre o trabalho do atores. Todos, sem exceção, estão bem. Mas as duas forças femininas da história é que se destacam. A gente já conhecia a inglesa Deborah Ayorinde, de Harriet e Luke Cage. Mas sua atuação aqui como personagem principal da história é de arrasar. Em contrapartida, sua grande “inimiga” em Them, Allison Pill, faz uma neurótica, racista enlouquecida, com direito a um lado sofrido, mas mesmo assim, terrível. Seus sorrisos são assustadores!
Them é uma série que incomoda por sua violência, por até hoje testemunharmos histórias de preconceito absurdas. É uma produção de qualidade, mas quer saber? Nunca mais quero ver novamente.