Decameron, de Pier Paolo Pasolini ficou proibido durante alguns anos no Brasil durante o período da ditadura. Assistindo hoje (tenho o DVD) parece até inocente (e um pouco envelhecido). Para quem não conhece o filme, é uma adaptação do livro de contos escrito por Giovanni Bocaccio lá pelos anos 1300. Nele, um grupo de sete moças e três rapazes se abrigam em uma vila isolada de Florença para fugir da peste negra, começam a contar histórias que vão do erótico ao trágico. O filme de Pasolini, de 1971, têm nove delas, com resultados diversos. Uma é a de um jovem que se faz passar por surdo-mudo para trabalhar num convento cheio de freiras muito “curiosas”. Esse segmento foi transformado em filme recentemente, com o título de A Comédia dos Pecados, que estreou na Netflix e está fazendo um grande sucesso entre os assinantes.
A Comédia dos Pecados é um daqueles casos interessantes de filmes que fizeram um certo barulho no circuito de festivais, mas que não tiveram um lançamento apropriado. Creio que nem foi lançado nos cinemas no Brasil. É uma produção de 2017, e que só agora está se tornando conhecida após o lançamento na Netflix. Já durante os créditos é possível sentir a homenagem ao Decameron de 1971, como a fonte usada para anunciar os atores e a música-tema.
A história
Primeiro conhecemos o local do convento, especialmente as freiras Alessandra (Alison Brie), Fernanda (Aubrey Plaza, também produtora) e Ginevra (Kate Micucci, que foi a Lucy de The Big Bang Theory). O comportamento agressivo delas acaba afugentando o jardineiro. E o padre Tommasso (John C. Reilly) fica com um problema na mão. É quando conhece o jovem Massetto (Dave Franco), que está fugindo de seu mestre que o jurou de morte. Para evitar problemas com as freiras, ele inventa a história que Massetto é surdo-mudo para que ele não tenha problemas com as freiras. Só que…
A crítica
É divertido ver a opção estética do diretor Jeff Baena, que depois dirigiu Entre Realidades, também com Alison Brie. Ele faz uma comédia de temática sexual, que é levada com imensa galhardia pelo seu elenco (eles devem ter se divertido muito!). O mais chocante é que apesar de todos usarem um figurino de época, a cenografia estar correta, a linguagem – e os palavrões – são totalmente modernos. O princípio da história de freiras enlouquecendo já é divertido, mas há alguns momento de comédia de absurdo que vão fazer você rir sem saber direito a razão. Uma delas é a da tartaruga com a vela, repare.
Apesar da temática, A Comédia dos Pecados é até mais pudica do que o filme de Pasolini. É irreverente mas ao mesmo tempo, um tanto inocente. Tem só alguns nus frontais na cena da fogueira, e ainda uma cena de sedução entre duas mulheres. Mas, é claro, o filme faz piada em cima de comportamento de religiosas, então, se você tiver um problema com isso, é melhor nem assistir. Todos no elenco estão ótimos. Dave Franco está muito divertido. E ainda há várias participações especiais como Paul Reiser (Mad About You), Jemima Kirke (Girls), Nick Offerman (Parks and Recreation), Lauren Weedman (Looking) e até Molly Shannon. As cenas dela com John C. Reilly fazem lembrar o clássico de Sessão da tarde Nunca Fui Beijada. Gostei!!