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A versão dos novos tempos de Rebecca da Netflix

Rebecca: (L to R) Armie Hammer as Maxim de Winter, Lily James as Mrs. de Winter. Cr. KERRY BROWN/NETFLIX

Provavelmente, se você vier a ler outras críticas sobre a nova versão de Rebecca: A Mulher Inesquecível, pode ter certeza de que a maioria delas vai comparar com a versão de 1940. De maneira desfavorável, claro! Afinal, o filme dirigido por Alfred Hitchcock há 80 anos é um belo exemplo de romance gótico, que inclusive ganhou o Oscar de melhor filme. Mas, na verdade, a Rebecca de 2020 tem que ser visto com os olhos dos dias atuais, para um público que não conseguiria compreender  a atuação tonta de Joan Fontaine no filme original. Esta era um reflexo daquela época. Gosto de estar sempre aberta às refilmagens. Acho que elas adaptam as histórias aos novos tempos, sem perder sua essência. E creio que esse é o caso desse novo olhar sobre a história de Rebecca – A Mulher Inesquecível, que estreia na Netflix nesta quarta, dia 21.

A história de Rebecca

A história se passa nos anos 30. Uma jovem (Lily James)  que trabalha como dama de companhia de uma senhora, está em Monte Carlo. Ela acaba conhecendo um milionário viúvo, Max De Winter (Armie Hammer), e os dois se apaixonam. Após o rápido casamento, os dois se mudam  para Mandarley, a intimidadora mansão na costa da Inglaterra. Chegando lá, a nova Mrs. De Winter passa a viver à sombra da falecida Rebecca, a misteriosa esposa anterior de seu marido. Tudo fica ainda mais opressivo por causa da assustadora governanta, a Sra. Danvers (Kristin Scott Thomas). Só que aos poucos, ela vai descobrindo misteriosos segredos sobre o passado do marido, de Rebecca e da propriedade.

A crítica

O filme é dividido em duas partes. A primeira, totalmente solar, com toques divertidos, e direito a cenas bem românticas, mostra o envolvimento de Max e a futura Mrs. De Winter (nunca ficamos sabendo o nome dela). O tom muda com a chegada a Manderley, com seu aspecto soturno, e o olhar totalmente gelado de Kristin Scott  Thomas como a sra. Danvers (perfeita). As ironias desta última são congelantes, rs. A fotografia, o figurino, a direção de arte, tudo é deslumbrante. A trilha sonora tem alguns deslizes, poderia ter mais “clima” para ajudar a contar a história.

No elenco, ainda está a vencedora do Emmy, Ann Dowd, que é sempre ótima, como a milionária de Monte Carlo. E eu adoro a voz rouca de Sam Riley (Jack Favell), que já fez par romântico com Lily James no injustiçado Orgulho, Preconceito e Zumbis (eu gosto!). Achei mesmo que o roteiro deste novo filme de Rebecca funciona. Mas parafraseando a jovem Mrs. De Winter, senti falta de mais tempo com o romance gostoso de Monte Carlo.

No final, achei que os problemas do filme ficam concentrados no casal principal. E é até difícil de dizer isso porque gosto muito de ambos. Falta a Armie Hammer um olhar trágico de Max De Winter, depois de todas as coisas pelas quais passou. Mesmo em seu maior momento, quando conta o seu grande segredo, parece mais um garotinho chorão do que um homem atormentado. E Lily James é sempre poderosa! É difícil acreditar que ela não colocaria todas as coisas nos seus lugares cinco minutos depois de passar pelas portas de Manderley, rs. De qualquer maneira, isso não estraga a história. Tem seu charme!

Rebecca x A Sucessora

Quem é mais velho, e viu a novela A Sucessora, deve ficar impressionado com as semelhanças com a história de Rebecca. Pois há mais do que isso. Em 1934, Carolina Nabuco, filha do diplomata Joaquim Nabuco, escreveu o livro A sucessora, que logo alcançou um sucesso de público no Brasil. Ele contava a história de Mariana, uma jovem recém-casada que após uma romântica lua-de-mel, muda-se para a mansão do marido, o milionário Roberto Steen. Ao entrar em sua nova residência, depara-se com um imponente retrato de Alice, a primeira mulher de Roberto, falecida poucos meses antes de Marina e ele se conhecerem. Ela é então invadida por sentimentos de insegurança e inadequação, especialmente por causa da governanta Juliana. Precisa falar mais?

 

Pois bem, na época, Carolina resolveu traduzir o livro para o inglês e enviar a tradução a seus agentes internacionais. Só que a resposta para uma possível publicação em outros países não chegou. Só que, em 1938, do outro lado do Atlântico, a escritora britânica Daphne du Maurier lançou Rebecca, que logo depois virou filme de Hitchcock. Com o sucesso do filme, o caso de possível plágio ganhou os jornais brasileiros. E em 1941, o New York Times Book Review publicou inclusive uma matéria apontando uma coincidência “extraordinária” entre os livros das duas autoras.

Em suas memórias, Carolina lembrou que os advogados da produtora do filme chegaram a procurá-la para que ela assinasse um documento admitindo a possibilidade de haver uma mera coincidência. Isso, claro, mediante uma quantia em dinheiro que ela descreve como sendo “de valor considerável”. Ela  diz que não aceitou o acordo, mas também não consta que processou os envolvidos pelo plágio.

 

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