Confesso que dei uma enrolada para assistir Malcom & Marie. Esses filmes que ficam centrados todo o tempo em DR’s (discussão de relação) me cansam profundamente. Todo mundo geralmente fala demais, fica buscando “pelo em ovo”. Não tenho paciência pra isso nem na vida real, nem no cinema. Mas, de qualquer maneira, o filme era obrigatório. Não só porque é uma produção badaladíssima da Netflix, mas também porque foi rodado durante a pandemia. E todo mundo falou das atuações de Zendaya e de John David Washington, os protagonistas e os únicos atores da história.
Rodado totalmente em preto e branco, tudo começa com um casal chegando de uma festa. Ele é um cineasta (Washington) que esteve na pré-estreia de seu primeiro grande filme. Junto com ele , está sua namorada (Zendaya), que está visivelmente chateada. Enquanto falam sobre a noite, e se o filme será um sucesso financeiro e crítico, de repente tudo muda. Revelações sobre seus relacionamentos começam a vir à tona, o que vai testar ambos até o extremo.
Eu sei que vou te amar
É engraçado que logo de início me veio a lembrança de um outro “clássico da DR”, o brasileiro Eu sei que vou te amar. Também naquele filme, pelo qual Fernanda Torres ganhou o prêmio de atriz em Cannes, o filme se concentrava nas conversas de um jovem casal. O local era um apartamento super moderno. Já faz muitos anos que vi o filme, me lembro de pouca coisa. Mas foi impossível não associar as duas histórias.
A crítica
É claro que boa parte da crítica pode se concentrar em como o diretor e roteirista Sam Levinson pega pesado com os críticos de cinema. Especialmente com uma de uma certa publicação que, coincidentemente, já criticou um filme dele. Rsrs. De qualquer maneira, é óbvio que Sam Levinson se vê na figura de Malcom. Este é um cara que se acha “o máximo”. Tudo é sobre ele, inclusive a ponto de se apropriar da história de Marie para fazer seu grande filme. É pretensioso. Diz frases como “eu não sou elitista, sou um cineasta”. Rsrs. Ele despreza todo o mundo, menos Marie. Até certo ponto.
Durante os primeiros 25 minutos, com um maravilhoso plano sequência, o filme é perfeito. Seria um ótimo curta-metragem. Mas depois começa a conversa, que vira e mexe retorna ao ponto de partida. São mais 85 minutos da falação. Aos 50 minutos, eu me perguntei, o que mais ele tem para falar? Sim, há grandes momentos, e belos diálogos, mas acabam ficando perdidos numa grande enrolação. Será que é intencional? Não sei, mas perde o ritmo, e com isso perde a audiência.
Zendaya e John David Washington
Entretanto a fotografia p&b é lindíssima, assim como a incrível trilha sonora. E, é claro, Zendaya arrasa, com já fez em Euphoria. Ela é uma atriz magnética, e a forma como diz seus monólogos é impressionante. O filme é dela! Já John David Washington ainda não encontrou um papel que me convencesse que é um grande ator. Nem em Tenet, nem em Infiltrado na Klan. Aqui ele tem alguns bons momentos como Malcom. Mas na maior parte do tempo é exagerado, muito exagerado. A cena em que ele come o macarrão parece coisa do programa dos Trapalhões. A da banheira, onde ele fala de outras mulheres, me fez cochilar – e depois tive que voltar pra ver tudo de novo, rs.
Muita gente – que gosta de falar e discutir a relação – provavelmente vai adorar. No meu caso, como esperado, cansou!