Eu já tinha ouvido falar da série Derry Girls, que tem duas temporadas disponíveis na Netflix. Uma vez cheguei a pensar em começar a ver. Só que alguma coisa acabou entrando na frente . E o meu amigo, José Augusto Paulo, que gosta muito de uma série de comédia, viu, e recomendou. Abaixo você pode ver a crítica dele. Ah, e como curiosidade, uma das atrizes principais, Nicola Coughlan, que faz Clare Devlin, ficou conhecida no mundo inteiro recentemente. Isso porque ela é a Penelope Featherington, de Bridgerton.
Derry Girls
Eu me lembro bem dos anos finais da campanha de terrorismo do IRA. E também dos constantes atos de violência de ambos os lados tanto na Irlanda do Norte como na Inglaterra. Essa era parte dos problemas que tiveram início na região de Derry em 1969, e aonde viria a ocorrer o ‘Bloody Sunday’ em 1972. Portanto uma série de humor, baseada na cidade, e retratando o início dos anos 90, me deixou curioso…
Já haviam me dito que a série havia ganhado alguns prêmios, especialmente de roteiro, no Reino Unido e na Irlanda. E agora posso dizer que foram bem merecidos. O texto flui muito bem. Uma parte segue aquela tradição das comédias irlandesas (muito sarcasmo para enfrentar as adversidades). Outra parte tenta circundar as divisões político-religiosas, sem ofender ou tomar partido. A produtora Channel Four escolheu bem a época em que a série se passa. 1992 foi a fase final do conflito em Derry aonde comecaram a aparecer os primeiros sinais de conciliação que levariam aos acordos de 1997. Derry Girls é uma co-produção com a excelente Hat Trick Production, e atinge o feito de não tornar o assunto regional demais.
Noto também que essa serie não poderia ter sido filmada lá nos anos 90. Tenho na memória os efeitos das bombas em Londres. E também passei por momentos de tensão em lugares centrais como South Kensignton. Por isso, só de ver uma cena com as ‘Orange marches’ (a celebraçãoo anual protestante que era uma afronta para a maioria da população católica) me deixou com um certo desconforto. Mas a série consegue dar um lado mais leve ao que foram anos bem pesados.
A história
A história basicamente se concentra em um grupo de alunas de 16 anos . Isso até chega a ser irônico já que a maioria das atrizes estava com mais de 20 e uma delas ja tinha 30. Ela estudam em um colégio católico na cidade de Derry, em 1992. Mostra também algumas das familias e tem menções rápidas do conflito.
A crítica
O elenco não é muito conhecido fora do Reino Unido. Na maioria, foram escolhidos atores com o sotaque de Derry. E isso não é fácil de reproduzir, com diferenças com Belfast e tambem com o resto da Irlanda ao sul da fronteira. Mas todos interpretam bem e com a agilidade que o roteiro pede. Há também um garoto, primo de uma delas, que, de alguma forma, vem para uma escola só de meninas. Uma casualidade que se junta ao resto das situções cômicas.
A produção faz a festa com as cores fortes e os muitos sintéticos daquele inicio dos 1990. A fotografia ajuda a criar uma textura que, por vezes, parece comprovar que estamos assistindo algo filmado em 1992 e não em 2018, ano da produção. A primeira temporada termina um pouco sombria, mas a segunda fica ainda melhor. Um terceira está programada para estrear em 2021. Temporadas curtas, de episódios idem. Vale a pena uma leitura rápida da situação regional em 1970 e 1980 para algumas (poucas, bem poucas) referências.