A situação dos imigrantes na Europa é dramática e difícil. Mas os espanhóis resolveram fazer uma comédia sobre o assunto. Ela se chama Lo Nunca Visto, e está na Netflix. Meu amigo José Augusto Paulo, que mora há muitos anos na Europa, escreveu um texto sobre o filme. Fiquei com vontade de ver!
Lo Nunca Visto
Já há algumas décadas a imigração de africanos e asiáticos tem gerado intenso debate na Europa. O pensamento liberal reconhece que a população europeia ‘nativa’ está diminuindo. Portanto, aceitar imigrantes seria o necessário para garantir o futuro de aposentadorias, serviços, e mesmo a sobrevivência de comunidades rurais e urbanas, etc. Os mais conservadores temem pela infiltração de influências culturais ‘não-europeias’ no continente e a perda da ‘identidade nacional’, além de outras razões que, por vezes, são fachada para um certo racismo. Mas será que um continente que sofre invasões de estrangeiros há milênios e, se formou culturalmente por essas invasões, pode mesmo questionar de onde virá sua necessária reposição populacional? Além do que, foram as décadas de colonialismo que propagaram a ideia (e sem se perguntar se os colonizados aceitariam a presença europeia) de que a Europa era um lugar melhor para se viver do que o resto do mundo…
A história
A possibilidade de imigrantes ajudarem a fazer crescer populações locais é um dos temas levantados pelo delicioso filme espanhol Lo Nunca Visto, disponível da Netflix. Ele retrata uma pequena vila nos Pirineus (e faz diferença ver território espanhol sob neve e com muito frio) que está arriscada de perder seus serviços (um padre, um médico e o equipamento para remover a neve) por ter menos de 18 habitantes. Eles tentam soluções que pouco ajudam.
É nesse momento que chegam ao vilarejo quatro africanos que estão fugidos de uma situação que os explorava. Entra então a vibrante Teresa (Carmen Machi), esposa do alcaide e quase ela mesmo ‘prefeita’ do local. Ela percebe que os quatro africanos (por ironia, os atores são nascidos em Espanha, inclusive o excelente Jimmy Castro, que abre suas Caixas de Pandora ao longo da trama) aumentariam a população para mais que 18. E, por consequência, salvariam a vila de ser anexada ou algo pior.
https://www.youtube.com/watch?v=URqudFU64Y8
Teresa encontra resistência de quase todos no vilarejo, inclusive de seu amigo Jaime ( Pepón Nieto) e mesmo do quase hippie Guiri (Jon Kortajarena – Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars ), que é responsável por uma boa parte dos comentários politicamente incorretos do filme.
A história foi escrita pela argentina Marina Seresesky, competente também na direção do filme, cuja fotografia retrata bem a situação de isolamento e distância. O tema é sério e tratado de maneira inteligente entre as observações de variadas gerações e culturas. Especialmente pelo brotar de pequenas, singelas histórias de amor, que ajudam a romper barreiras. Uma mensagem importante entregue de maneira doce, mas competente.