Gosto bastante de histórias sobre o momento em que houve uma luta pelos direitos civis dos negros nos anos 60 e 70 nos Estados Unidos. Acho que nos fazem entender melhor a situação atual. E que muitas vezes se refletem no nosso dia a dia. Para mim, Infiltrado na Klan (Netflix), de Spike Lee, foi um dos melhores filmes da década passada. Recentemente, assisti Filhos do Ódio (disponível nas plataformas de video on demand). Também gostei bastante. E há vários outros: Estrelas Além do Tempo, Green Book, Selma etc. Ontem estreou na Amazon Prime Raça e Redenção. Baseado numa história real praticamente inacreditável, deve ser conhecido.
O filme se passa em 1971. Desde 1957, uma lei nacional determinava que alunos negros poderiam ir às mesmas escolas que brancos. Mas em alguns locais do sul racista, especialmente os dominados pela Ku Klux Klan, insistiam em manter as divisões, mesmo em 1971. É nesse momento que uma escola para estudantes negros pega fogo na pequena cidade de Durham. Por causa disso, Ann Atwater, ativista negra em prol dos direitos civis, confronta um dos líderes da Ku Klux Klan, C. P. Ellis. Ambos integram uma estratégia de mediação de conflitos proposta pelo juiz local. O objetivo é decidir se crianças negras podem frequentar a escola reservada até então aos brancos.
A crítica
Chega a ser absurdo pensar que essa situação aconteceu apenas há 50 anos. O filme parte do mesmo princípio de Green Book. Duas pessoas com opiniões totalmente diversas tem que conviver e aprender a ouvir o que o outro tem a dizer. Li algumas críticas americanas que desprezam o filme argumentando que ele humaniza um membro da Klan. Discordo! O filme mostra a podridão do racismo de dentro, assim como Infiltrado na Klan. Os diálogos são fortes e o filme tem alguns momentos emocionantes e revoltantes. Deixa bem claro as posições de cada um deles, e os motivos que levam C.P. a rever seus conceitos. Inclusive, ao final, durante os créditos, Raça e Redenção mostra que C. P e Ann se tornaram amigos até o fim da vida.
A verdade é que Raça e Redenção é um filme bem competente. Reconstrói de maneira eficiente a época. Tem personagens bem delineados. Mesmo com 2h13, você não sente o tempo passar. E, claro, as interpretações são de primeira linha. Taraji P. Henson, com uma roupa com enchimento, está feroz, exagerada e perfeita como Ann Atwater. É uma grande atriz quando quer! C. P. é um personagem mais cheio de camadas, o que é um prato cheio para Sam Rockwell. Assim como em Três Anúncios para um Crime, que lhe deu o Oscar, ele adora um vilão em busca de redenção. Os dois dão um show, que vale a pena conhecer.