Quem é fã de Ryan Murphy como eu sabe exatamente o que esperar das séries do produtor/diretor. Tem várias referências ao cinema e à cultura pop, grandes atores fazendo papéis memoráveis. Isso além de uma direção de arte sempre incrível bem como a fotografia e trilha sonora realmente especiais. Mas, é claro, tem suas escorregadas, normalmente no roteiro. O interessante é que suas produções são um presente tão grande para o fã de cinema/ cultura pop, que a gente normalmente perdoa esses probleminhas. Isso fica ainda mais evidente em Ratched, série que vai estrear na próxima sexta (18) na Netflix, já com uma segunda temporada encomendada (sim, o final “chama” uma sequência).
Quem já assistiu Um Estranho no Ninho alguma vez na vida, não esquece daquela que é considerada uma das maiores vilãs da história do cinema. A enfermeira Ratched era o demônio para os pacientes de uma clínica psiquiátrica. Ela era vivida por Louise Fletcher, que inclusive venceu o Oscar de melhor atriz, um dos diversos que o filme, disponível na Amazon, arrebatou em 1975. Durante um ano Ryan Murphy lutou para conseguir os direitos da personagem. É por isso que você vai ver o nome de Michael Douglas, que era produtor do filme, entre os créditos da série.
A história de Ratched
Ratched pretende ser uma série dramática de suspense ao contar a história da origem da enfermeira de asilo, Mildred Ratched. Em 1947, Mildred chega ao norte da Califórnia. Seu objetivo é conseguir um emprego em um importante hospital psiquiátrico, onde estão fazendo novos e inquietantes experimentos na mente humana. Em uma missão clandestina, Mildred é a imagem perfeita do que uma enfermeira dedicada deve ser. Só que as coisas não são bem assim. Quando ela começa a se infiltrar no sistema e se aproximar das pessoas dentro dele, o exterior elegante de Mildred esconde uma escuridão crescente.
A crítica
Quando você começa a assistir Ratched, já com uma cena bem sangrenta, a primeira lembrança que vem à cabeça é uma outra série de Ryan Murphy, American Horror Story. Sangue, loucura, lobotomias, pessoas estranhas. Tudo isso traz uma grande identificação com a série que já está na 10ª temporada, e teve a participação de Sarah Paulson, que faz a enfermeira. Além desta, outra lembrança vem à mente, com sua fotografia extremamente colorida, e a decoração do hospício que mais parece um hotel cinco estrelas. São os melodramas dos anos 50, especialmente aqueles dirigidos por Douglas Sirk. A influência é clara, ainda mais conhecendo o amor de Ryan Murphy por os filmes dessa época.
Com isso, você pode esperar uma fotografia especialíssima (com certeza vai ganhar muitos prêmios), uma trilha sonora deliciosa, um figurino excepcional, uma direção de arte de morrer. E, é claro, muito sangue e violência. Mas, como sempre, há problemas de roteiro. Com seus nove episódios, Ratched é cheia de altos e baixos. Algumas cenas são repetitivas. Um exemplo, sem spoilers, é uma cena durante um show de marionetes, onde ficamos sabendo mais sobre o passado de Ratched. E logo em seguida, num restaurante, Ratched explica para Gwendolyn (Cynthia Nixon) exatamente tudo o tínhamos acabado de ver.
Mas não é só! Há enormes inconsistências sociais, como a convivência entre brancos e negros, ou o poder de mulheres. Afinal, estamos falando de 1947. Alguns personagens entram e saem de cena sem grandes explicações. E o pior é que boa parte deles é feita por atores incríveis. Um exemplo é o personagem de Corey Stoll. Até mesmo a participação de Sharon Stone – maravilhosa – deixa uma sensação de “quero mais” (quem sabe uma série só pra ela, Ryan Murphy?). Aliás, como sempre, o elenco brilha, brilha muito.
O elenco
Todos estão ótimos. Mas, meus destaques especiais vão para Sharon Stone (claro!) – ninguém sabe fazer uma estrela como ela; e para Finn Wittrock, que já demonstrou em diversas séries de Ryan Murphy que é muito mais que um rosto bonito. Judy Davis está incrível como a enfermeira Bucket. Cynthia Nixon tem grandes cenas (repare na das ostras!). Sophie Okonedo arrasa com as múltiplas personalidades de Charlotte. E Vincent D’Onofrio é sempre um ótimo canalha, rsrs!
E, é claro, tem Sarah Paulson no papel principal. Quando anunciaram o seu nome como a “jovem” enfermeira Ratched, fui checar uma informação. Na verdade, Sarah é quatro anos mais velha do que Louise Fletcher era quando fez Um Estranho no Ninho. Rrsrs. É claro que os tempos são outros, as atrizes se cuidam muito mais, e Sarah efetivamente parece mais jovem. O certo é que ela tem aqui um daqueles papéis de sonho para uma atriz, e que agarra “con gusto”. Todas as emoções passam por seu rosto em questão de segundos. Raiva, desespero, maquiavelismo, triunfo, e até amor. Ela é demais!