Lembro que quando era pequena, meu avô gostava de ver programas de luta livre na TV. Também lembro que achava tudo aquilo muito esquisito, porque desde aquela época achava que as lutas pareciam falsas, com uma série de acrobacias. Já adulta, descobri que a luta livre é praticamente uma instituição mexicana. Mas confesso que não conhecia a história real de Saul Armedariz, que é o tema do filme Cassandro. Meu amigo José Augusto Paulo assistiu o filme, que está na Prime Video, e gostou bastante. Veja aqui o que ele escreveu:
Cassandro
Esse filme disponível na Amazon Prime, foi bastante promovido por aqui em Setembro. Eu não acompanho luta livre, e ainda menos a mexicana, e não conhecia quem seria Saul Armendariz, o Cassandro do titulo. Por isso, não dei muita prioridade a assisti-lo. Mas, eventualmente, o trailer me chamou a atenção. Decidi assistir e não me arrependi.
Sempre gostei do trabalho de Gael Garcia Bernal desde os anos 90. Esse esforçado ator mexicano chegou a estudar drama em Londres, algo notável na época. E ele sempre escolheu papéis que poderiam ser considerados arriscados para um homem mexicano, mas no final, estes o levaram a ser conhecido internacionalmente. Ele está excelente em Cassandro e, porque não dizer, quase irreconhecível também. Gael já não é mais garoto, mas os olhos grandes, e a forma quase de adolescente de andar, são menos notáveis neste filme.
A história
A história em si cobre alguns aspectos da carreira de Cassandro. Em um ambiente em que gays eram notavelmente hostilizados (mesmo se considerarmos que a tal luta livre envolve aquelas fantasias meio camp, aquela teatralização toda no ringue), ele ganhava um extra como o Topeira. Mas sempre perdia as lutas (os outros lutadores sabiam que ele era gay, só que o publico não). Até que um dia, Saul conhece uma garota lutadora e pede a ela que seja sua treinadora. Esta lhe sugere tentar ser um ‘exótico’ (lutadores que são ainda mais camp nas suas fantasias, por vezes efeminados, diferentes digamos). Saul hesita porque os exóticos sempre perdem as lutas, mas acaba por aceitar a ideia.
O filme mostra como ele vive com a mãe solteira, o pai distante (que tem outras mulheres e outros filhos), o constante cruzar da fronteira com os Estados Unidos para trabalhar. E também as várias dificuldades que enfrenta e mesmo um caso que ele tem com outro lutador ( o excelente Raul Castillo, de Looking) casado e com filhos. Tudo em cenas rápidas, pois o melhor do filme está justamente em contar muito da historia de Cassandro em 1 hora e 47 minutos. Tudo de forma inteligente e que nos dá um bom contexto para acompanharmos seu desempenho profissional.
Em detalhes…
O próprio Saul foi consultor na produção. Portanto, há muito para mostrar de Cassandro, não só como o exótico que se tornou notável, como também as suas dores, perdas e desilusões. Ele é um fenômeno pois o publico que inicialmente o hostiliza, se torna fã de suas atuações . Além disso, ele sabe usar o espaço teatral que a luta permite. É um filme sobre luta em vida, tanto quanto no ringue, em acreditar em sonhos, em ir contra o que os outros esperam em busca deles. Mas principalmente de acreditar em si mesmo e nos personagens que por vezes temos de criar para que possamos ser algo mais nesta existência. Excelente direção, boas atuações, uma fotografia que mostra quão rude pode ser a vida naquele contraste com os brilhos das fantasias, máscaras e nos bastidores escuros e bares idem. E Gael se supera uma vez mais. Veja abaixo a foto dele ao lado do verdadeiro Cassandro na pré-estreia do filme.