No final de outubro, a Netflix lançou a minissérie O Gambito da Rainha. O título pode parecer estranho para quem não conhece o jogo de xadrez. Mas, na verdade, se trata de uma jogada tradicional que ocorre logo no início da partida. De qualquer maneira, desde o seu lançamento, a O Gambito da Rainha é um grande sucesso, que não sai da lista dos mais vistos da Netflix. Recebi inclusive um estudo do time de Consumer Insights da Decode, dizendo que a minissérie provocou um crescimento das buscas relacionadas a jogos de xadrez, principalmente entre as mulheres.
O estudo diz que, após o lançamento, a procura por jogadas de xadrez aumentou 150%. Especialmente entre as mais mencionadas na história, como o próprio gambito da rainha (250%) e a jogada siciliana (300%). O público das redes se interessou pelo próprio jogo de xadrez. Aumentaram também as buscas por maneiras de jogar digitalmente, como “Flyordie Xadrez” (60%), “jogar xadrez online” (40%) e “tabuleiro de xadrez luxo” (160%).
O meu amigo José Augusto Paulo assistiu O Gambito da Rainha e adorou. Veja a crítica abaixo:
O Gambito da Rainha
Faz muito, mas mas muito tempo que não jogo xadrez. Na minha infância, lembro de um primo que participava de campeonatos. E eu acompanhava jogos que os jornais da época publicavam. Lembro dos nomes de alguns movimentos e séries de lances. Também ainda me lembrou da importância que o jogo tinha na União Soviética. Tudo isso me veio à mente vivamente na nova e excelente minissérie O Gambito da Rainha, uma criação de Scott Frank (Marley & Eu) e Allan Scott (Logan).
A história, baseada em um livro de ficção, nos mostra uma orfã, Beth Harmon. Ela é feita pela intrigante Anya Taylor Joy , de Emma. Nascida em Miami, criada na Argentina, só aprendeu inglês aos 8 anos quando se mudou para o Reino Unido. No filme, Beth aprende a jogar xadrez com um funcionário do orfanato. Encontra no jogo uma obsessão e uma forma de viver. Ela entra para campeonatos e vai ascendendo nos meios quase que exclusivamente masculinos da época. Tudo se passa na segunda metade dos anos 50 até quase o final dos anos 60).
A crítica
A sinopse lhe parece usual e típica de séries? Pois garanto que o efeito na tela não é. A começar pela trilha sonora de Carlos Rafael Rivera (Godless), que conduz bem as emoções e intensidade das cenas. Dá também um pano de fundo ideal no qual a cinematografia de Steven Meizler (The OA) cria um universo em cores pastéis. Assim consegue providenciar uma textura adequada para o que pensamos da época. Usa e abusa das formas lineares do tabuleiro de xadrez e com movimentos de camera intuitivos, inteligentes, nada mecânicos. A maioria das cenas foram filmadas na cinzenta Berlim. Esta tanto serve de cenario para a União Soviética como para alguns dos locais supostamente nos Estados Unidos. Os dois últimos episódios foram filmados na cidade, em uma área que contém uns apartamentos ainda Stalinistas, no que antigamente era Berlim Oriental.
Entramos voluntariamente e com gosto no mundo da orfã Beth. Não fica difícil entender suas reações e comportamento. Entendemos, mas não julgamos. Acompanhamos e torcemos mesmo quando os jogos em si não são mostrados completamente. Quem nunca jogou xadrez não terá problema em acompanhar, e bem, a série. Eu costumo dizer que xadrez tem vários paralelos com as vidas de cada um de nós. Mas em O Gambito da Rainha encontramos um pouco de nós no personagem central.