A família Washington é bem fã do dramaturgo August Wilson. O pai, Denzel, dirigiu e estrelou Um Limite entre nós, pelo qual foi indicado ao Oscar. Também produziu Ma Rainey: A Voz Suprema do Blues, outra de suas histórias. E agora Denzel produziu Um Piano de Família, que está disponível na Netflix. Este é dirigido por seu filho Malcom, estrelado por seu outro filho, John David Washington, e ainda tem as duas filhas envolvidas, Katia e Olivia, uma na produção e outra num pequeno papel. O filme é um drama que mostra suas raízes teatrais, mas apesar de um pouco repetitivo, tem bons momentos, especialmente seu final espetacular.
O ano é 1936, auge da Grande Depressão, e a herança da família – um estimado piano de madeira – divide opiniões e gera conflitos ferozes entre os irmãos. De um lado, Boy Willie (John David Washington) quer vender o aparelho. Seu objetivo é comprar as terras onde seus ancestrais trabalharam como escravizados, e melhorar de vida. Do outro, está sua irmã Berniece (Danielle Deadwyler). Ela quer manter o piano, já que na peça está talhada a história e os rostos de seus antepassados. Em meio ao conflito e aos desentendimentos, fantasmas do passado ressurgem na casa do tio Doaker (Samuel L. Jackson).
O que achei?
A peça foi encenada na Broadway pela primeira vez em 1987, e Samuel L. Jackson fazia o papel de Boy Willie. Em 2022, Samuel L. Jackson, John David Washington, Ray Fisher e Michael Potts a reviveram na Broadway. Os quatro retomam seus papéis aqui. Mas quem chamou a atenção foi Danielle Deadwyler. Ela inclusive concorre como atriz coadjuvante no Critics Choice e no Satellite Awards. Está ótima como sempre. Todos ainda receberam uma homenagem com o prêmio Tribute de melhor elenco no Gotham Awards. Como curiosidade, destaco o trabalho de Ray Fisher, que teve toda aquela briga com a Warner e Joss Whedon por causa de sua participação como Cyborg no filme da Liga da Justiça. Confesso que demorei para reconhecê-lo. Mas ele faz do amigo de Boy Willie um personagem doce e diferenciado. Ele tem uma cena muito delicada e bonita com Danielle Deadwyler.
Em sua estreia como diretor, Malcom Washington tem um bom momento. Poderia ter dado uma segurada no irmão, já que John David parece que ainda está fazendo o papel no teatro, e quer que a pessoa da última fila ouça sua voz. Ou ainda ter feito um trabalho mais conciso na edição, já que há momentos que soam repetitivos. Mas no geral, tem momentos ótimos, mesmo não escondendo sua raiz teatral (a maior parte do filme se passa dentro da casa). Ele passa por vários gêneros, além do drama, há um certo humor irônico, um sensacional número musical, e ainda um toque de terror que impressiona. No final, mesmo com alguns probleminhas, impressiona e convence.