Há alguns milhões de anos eu assisti a minissérie Shogun, com Richard Chamberlain. Gostei, mas não me marcou, tanto que pouco me lembro dela (terei que rever em DVD). Então, quando a refilmagem, lançada por aqui com Xógum pelo Star Plus/Disney Plus, estreou, vi os dois primeiros episódios – e me pareceram bem bons. Só que aí fui viajar, e só retomei na volta. Mas nada me preparou para a qualidade desses 10 episódios. Com certeza, já está na minha lista das melhores do ano.
A série se baseia no livro do mesmo nome, escrito por James Clavell. Ela acompanha a história do marinheiro britânico Jack Blackthrone (Cosmo Jarvis). Após naufragar no litoral japonês, ele se encontra em uma série de conflitos políticos e armamentistas no início da eclosão de uma guerra civil. Para sobreviver em um país desconhecido, é usado como peão pelo líder japonês Lord Toranaga (Hiroyuki Sanada). Este tem planos muito claros para não morrer, e chegar ao topo da cadeia governante. Xógum explora o universo mítico dos samurais e das gueixas em um Japão dividido por religiões e políticas. Tudo isso num contexto histórico, que abrange a época das grandes navegações, mostrando o poder da igreja, e os costumes locais.
O que achei?
Xógum é uma aventura épica, que em alguns momentos vai lembrar você de Game of Thrones. Porque há uma disputa ferrenha pelo poder. Os bastidores dessa luta são mostrados a cada momento. Há também cenas violentas, algumas até nojentas. Para você se preparar, logo no início há a chegada dos marinheiros sujos (bem sujos) e doentes no Japão. Além disso, é muito interessante descobrir junto com John Blackthorne todas as diferenças dos costumes entre Ocidente e Oriente na época. Mas, fica aqui o aviso. É uma série que você precisa prestar atenção (não dá pra ficar nas redes sociais ao mesmo tempo), senão vai perder detalhes importantes.
Há um evidente respeito em manter os detalhes do livro. Os personagens japoneses são vividos por atores japoneses, e boa parte do diálogo também acontece na língua. A ideia da nova produção começou em 2018, mas a espera valeu a pena. A cenografia, o figurino, o roteiro, a coreografia das batalhas (a luta de Mariko é sensacional), e especialmente as atuações, tudo é de primeira linha.
O elenco
Cosmo Jarvis ( de Persuasão) está ótimo como John. É sexy, divertido (há cenas ótimas dele tentando entender os costumes), e também heroico. Mas ao contrário da versão com Richard Chamberlain, ele não é o centro das atenções – apesar de seu personagem ter vital importância na história. Há também uma atuação brilhante de Hiroyuki Sanada, como o Xógum do título. Ele já é um ator conhecido de filmes e séries, como 47 Ronins e Lost, entre tantos. Mas, aqui ele brilha, mostrando (e escondendo) cada um de seus pensamentos. Mas, para mim, a personagem mais interessante da série é Mariko (Anna Sawai). Discípula de Toranaga, Mariko é uma figura trágica. Só que, ao mesmo tempo, é também muito inteligente, e sabe demonstrar sua paixão por John, mesmo apontando seus defeitos. Aliás, é sensacional ver como ela deixa muito claro o que pensa para todos. Anna Sawai está sensacional, mostrando uma grande diferença de sua atuação sem graça em Monarch. Eu ficava sempre esperando as cenas dela, que eram sempre as mais interessantes.
E depois de tudo…
Ou seja, Xógum é um grande espetáculo televisivo, que merece ser visto. Apesar de o final deixar uma porta consideravelmente aberta para uma continuação, nada está confirmado. A adaptação usou toda a história do livro de James Clavell. Ou seja, uma segunda temporada teria que ter um roteiro original. É esperar para ver…